Olimpíadas

Visão do Correio: As Olimpíadas e o empenho público

O histórico das Olimpíadas comprova que os resultados no topo do esporte mundial acompanham diretamente o investimento feito pelos países

Desde Pequim-2008, o desempenho do Brasil nos Jogos Olímpicos só melhora. Das 10 medalhas conquistadas em Atenas-2004, o país vibrou com 21 pódios em Tóquio 2020 — um aumento de 110%. Apesar desse crescimento ser puxado também pela inclusão de modalidades nas quais os brasileiros se destacam, como skate e surfe, o bronze por equipes na ginástica artística, alcançado ontem, em Paris, simboliza essa evolução. Antes da edição japonesa, brasileiras nunca haviam conseguido medalhas na modalidade. Hoje, são três. No evento asiático, o país faturou a de ouro no salto e a de prata no individual geral, ambas com Rebeca Andrade, que se somam ao pódio desta terça-feira.

Ainda que os números comprovem uma evolução olímpica do Brasil, o desempenho do país está longe de potências como Estados Unidos, China, Grã-Bretanha e Japão. Os brasileiros nunca figuraram no top 10 do quadro de medalhas. O melhor resultado aconteceu justamente em Tóquio: o 12º lugar. Todo esse histórico comprova que os resultados no topo do esporte mundial acompanham diretamente o investimento feito pelos países. 

Nessa toada, em 2023, o Bolsa Atleta — programa do governo federal que financia carreiras desportivas de alto rendimento — recebeu R$ 121 milhões, o que significa um recorde de 8.292 apoios concedidos a modalidades olímpicas e paralímpicas. Este ano, a gestão ampliou esse repasse ao contemplar cerca de 9 mil atletas, com uma transferência que chega a aproximadamente R$ 160 milhões.

Mais do que investimentos pontuais, o sucesso olímpico depende da continuidade do empenho público. O caso do Japão serve como exemplo. Em Sydney 2000, o país conquistou 18 medalhas, a maior parte delas no judô. Vinte anos depois, ao receber o megaevento esportivo em sua capital, a potência asiática mostrou força para além dos tatames e faturou 58 pódios, com judocas e em esportes em que não tinha tradição, como a ginástica e o tiro com arco. 

Nesse sentido, o Brasil acerta ao ampliar seus investimentos em programas como o Bolsa Atleta. Até 2022, os aportes eram de R$ 129,6 milhões — portanto, 24% menores do que o patamar atual. Na delegação brasileira em Paris, 87,3% dos esportistas recebem recursos do programa. No boxe, por exemplo, todos os 10 classificados estão na categoria mais alta da iniciativa, que paga entre R$ 5,5 mil e R$ 16,6 mil ao beneficiado por mês.

Ainda que o cenário tenha melhorado, há potencial para mais. Antes do reajuste feito pela atual gestão, o governo federal nunca havia ampliado os valores do Bolsa Atleta, que continuavam os mesmos desde a criação do programa, em 2005. Tal panorama vai totalmente na contramão das potências olímpicas. Também configura um desperdício de capacidade, sobretudo após a construção de infraestruturas esportivas para o recebimento dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016.

Essa conta não deve ser paga somente pelo governo federal. O olhar do primeiro escalão público é peça importante desse time, mas a ampliação do investimento também depende das esferas estaduais e municipais e da iniciativa privada, a partir de programas como a Lei de Incentivo ao Esporte. O mesmo vale para o aumento da destinação das emendas parlamentares para o setor, fatia que cabe à nossa classe política. A história mostra que o Brasil ainda continua dependente de talentos individuais, como os de Willian Lima e Larissa Pimenta, pouco falados antes de Paris 2024, mas que garantiram as duas primeiras medalhas do país nos tatames.

  

 

 

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