Polyana Resende*
"Seu ônibus chegará em um minuto!". E, exatamente no tempo anunciado, o veículo estava à sua frente. Essa era a realidade cotidiana que vivi em 2013, quando morei em Londres. A precisão e a eficiência do sistema de transporte da cidade já eram impressionantes naquela época. Há mais de 10 anos, os londrinos podiam ver, em tempo real, onde estavam os ônibus e quanto tempo levariam para chegar, graças ao uso de GPS e outros mecanismos de geolocalização. A tecnologia de fácil acesso e baixo custo faz uma diferença colossal na vida dos usuários, permitindo um planejamento preciso das viagens e minimizando o tempo de espera.
Outro estímulo ao uso do transporte coletivo na capital inglesa é o uso do Oyster Card. Esse cartão inteligente pode ser utilizado em uma variedade de modais, incluindo ônibus, metrô, trens, bondes, barcos e até algumas bicicletas compartilhadas. Além de facilitar o pagamento, o sistema permite um monitoramento eficiente do fluxo de passageiros e uma gestão otimizada dos serviços, contribuindo para a redução de congestionamentos e melhorando significativamente a experiência do usuário.
- Leia também: Artigo: Saúde da Família - o cuidado como prioridade
O uso de sistemas avançados de geolocalização e de integração são pilares para a eficiência e a confiabilidade nos serviços de transporte público no Reino Unido. Os dados em tempo real fornecem não apenas informações precisas aos usuários, mas também ajudam na gestão e na operação do sistema, otimizando rotas e reduzindo atrasos.
Ao comparar essa realidade com a do Brasil, a diferença é alarmante. Dados oficiais indicam uma grande deficiência na implementação de tecnologias similares no transporte público brasileiro. Em Brasília, por exemplo, desde 2009, os contratos de operação de serviços de transporte público já previam o rastreamento da frota via GPS e a disponibilização em tempo real de informações relativas a linhas, itinerários e dados gerenciais para uso no Centro de Supervisão Operacional do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans). No entanto, apesar de tais ajustes contratuais, que geram custos embutidos na tarifa cobrada pelas empresas, esses dados não chegam aos usuários finais.
Na capital do país, os passageiros enfrentam grandes dificuldades em relação ao acesso a informações sobre linhas e itinerários. Não há sequer placas informativas nos pontos de ônibus, forçando os usuários a buscarem ajuda informal de outros passageiros, recebendo informações, muitas vezes, imprecisas ou equivocadas. Isso torna o uso do transporte público, que ainda anda a passos lentos também na questão da qualidade dos veículos, uma experiência frustrante e ineficiente.
A falta de implementação eficaz de uma tecnologia tão acessível e simples no Brasil levanta questões importantes. Por que não conseguimos seguir o exemplo de nações desenvolvidas, onde a integração e a transparência no transporte público são prioridades? A acessibilidade à informação em tempo real não só melhora a experiência do usuário, mas também reflete um compromisso com a eficiência e a inovação. Felizmente, esse cenário está na mira dos órgãos fiscalizadores. A questão da eficiência e da qualidade no transporte público será tema central do 1º Encontro Nacional de Controle Externo em Mobilidade Urbana, promovido pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF), entre 29 de julho e 1º de agosto, no Plenário da Corte. Esse evento é uma oportunidade crucial para debater soluções e implementar melhorias significativas no sistema de transporte público.
A importância do bom funcionamento das políticas públicas de mobilidade urbana é inquestionável. Um sistema de transporte eficiente, além de facilitar a vida dos cidadãos, é um indicador de desenvolvimento e progresso. Como a famosa frase do Gato no livro Alice no país das maravilhas nos lembra: "Se você não sabe para onde quer ir, qualquer caminho serve." A adoção de tecnologias modernas e a fiscalização das políticas públicas de mobilidade urbana são essenciais para garantir um futuro em que todos possamos saber não só para onde estamos indo, mas como e quando chegaremos lá.
*Jornalista, especialista em gestão pública pela UnB e chefe da Assessoria de Comunicação do Tribunal de Contas do Distrito Federal