Caso seja a escolhida pelo Partido Democrata, Kamala Harris terá a oportunidade de enfrentar um adversário misógino e racista. Filha de imigrantes da Índia e da Jamaica, negra e mulher, a vice-presidente dos Estados Unidos representa tudo o que Donald Trump abomina. Tanto que, antes mesmo da confirmação da candidatura e ao perceber como Kamala conseguiu aglutinar matizes ideológicas distintas dentro do Partido Democrata e impulsionar as doações de campanha, Trump tratou de desqualificá-la e de utilizar a linguagem do ódio. Acusou a democrata de ajudar Joe Biden a supostamente inventar uma infecção por covid-19 apenas para sair de cena, chamou-a de incompetente e mentirosa e disse que Kamala é "burra como uma pedra". Declaração desrespeitosa, absurda e que pode aglutinar o apoio massivo das mulheres à vice de Biden. Além disso, trata-se de retórica incoerente, vinda de alguém que recomendou injetar desinfetante na veia para combater a covid-19 e disse que o barulho produzido por moinhos de vento provoca câncer.
Imagino que Trump fugirá do debate contra Kamala Harris, ante o risco de cair em uma armadilha. Não sabe controlar a língua e se julga superior a todas as mulheres. Também ficaria sem argumentos para confrontar a democrata em relação ao aborto — questão de direito e de saúde reprodutiva, para a democrata — e ao controle de armas de assalto. Mesmo depois de o magnata quase ter a cabeça atravessada por uma bala de fuzil, o que lhe custaria a vida, os republicanos seguem com a ilógica adoração às armas, aferrados à Segunda Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que garante à população norte-americana o direito à autodefesa.
Eleger mais uma vez o político que colocou uma faca contra o pescoço da democracia, ao instigar a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e ao questionar a legitimidade das últimas eleições soa tão irracional quanto sua retórica divisiva. É questão de bom senso e de respeito pelo Estado de Direito apoiar Kamala Harris e torná-la presidente dos Estados Unidos. É questão de urgência reduzir qualquer possibilidade de Donald Trump retornar ao poder.
A eleição do republicano seria desastrosa não apenas para a democracia, mas também para os direitos humanos — ele trata os imigrantes quase como ratos — e para a política externa, à medida que Trump tratará de sabotar a causa palestina e se alinhará à Rússia para enfraquecer a Otan. Não bastasse tudo isso, o ex-presidente é um modelo de violador das leis: responde a vários processos na Justiça que podem lhe custar anos de prisão. Kamala é a antítese de Trump. Mulher, política engajada nos direitos humanos, uma pessoa extremamente capacitada para liderar. Precisa do voto de confiança dos Estados Unidos. Pelo bem do país e do mundo.
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