Olgamir Amancia*
O processo de construção da "universidade necessária" de Darcy Ribeiro é permanente e firma suas bases no Projeto Político Pedagógico Institucional da Universidade de Brasília (UnB). Elaborado entre 2009 e 2011, a partir de seminários e fóruns envolvendo docentes, técnicas, técnicos e estudantes, esse projeto enfrentou com maestria os desafios que nos projetam para o futuro.
O que nos instiga é responder aos desafios cotidianos, sobretudo frente à redução dos investimentos em educação, ciência e tecnologia; é ousar para a inovação sem abandonar os valores que nos são caros; é construir a coletividade a partir da diversidade das singularidades que nos compõem.
Com esse olhar que aponta para a utopia original da UnB e com o objetivo de darmos continuidade ao processo permanente de construção de nossa universidade, sou candidata, ao lado do professor Gustavo Romero, da Faculdade de Medicina, na próxima consulta para a escolha de reitora e vice-reitor da UnB. Nossa chapa foi batizada com dois verbos caros ao nosso fundador: pensar e fazer, sempre de maneira verdadeiramente dialógica e participativa.
Nos dias 20 e 21 de agosto, a comunidade acadêmica começará a definir o caminho a ser trilhado pela instituição no período de 2024-2028. Os próximos titulares da reitoria terão a oportunidade de dar sequência a uma bem-sucedida gestão dos professores Márcia Abrahão e Enrique Huelva. Os últimos oito anos foram marcados por êxitos e avanços significativos para a nossa universidade, mesmo tendo enfrentado discursos adversos, pandemia e cortes orçamentários expressivos. A UnB ocupa lugares cada vez mais altos nos rankings de melhores universidades do país e do mundo.
Sinto orgulho de ter contribuído com a gestão superior ao longo desse período estando à frente do Decanato de Extensão. Entre outras realizações, criamos a Rede de Polos de Extensão — Recanto das Emas, Paranoá, Ceilândia, território Kalunga e Chapada dos Veadeiros —, abrimos a possibilidade para mais de 600 técnicos e técnicas atuarem em equipes executoras de projetos e levamos as atividades de extensão para dentro dos currículos de diversos cursos de graduação. Em 2023, chegamos a números excepcionais: 3,6 mil ações de extensão, seis editais amplos e 1.446 bolsistas.
Acredito firmemente que podemos avançar para termos uma UnB ainda mais próxima de sua missão institucional: "ser uma universidade inovadora e inclusiva, comprometida com as finalidades essenciais de ensino, pesquisa e extensão, integradas para a formação de cidadãs e cidadãos éticos e qualificados para o exercício profissional e empenhados na busca de soluções democráticas para questões nacionais e internacionais, por meio de atuação de excelência".
Assim, a partir do diálogo e da escuta qualificada de todos os segmentos da comunidade universitária, construímos um programa de trabalho e gestão sem perder de vista o foco nessa missão e na crença de que o fazer universitário consistente e compromissado somente é possível quando fundamentado em nossos valores. No caso da UnB, valores legitimados por processos históricos que começam em 21 de abril de 1962, passam por tempos inquietantes e chegam ao momento atual, em renovada harmonia.
Esses valores reafirmam a dignidade, a igualdade e a liberdade de todas as pessoas; a ciência como forma de conhecimento confiável ao lado de outras formas de saberes; o diálogo em termos de igualdade com essas outras formas de saberes; a tolerância e a compreensão para com as mais diversas formas de manifestação de pensamento e de crença; e a democracia como forma de organização política da sociedade em geral e da universidade, em particular.
É assim que compreendemos e estamos atentos a eixos que cruzam o pensar e o fazer da Universidade de Brasília, em sua indissociável relação entre o ensino, a pesquisa e a extensão: excelência acadêmica com inclusão social; pessoas que estão na UnB e fazem dela seu lugar de vida e transformação; e uma incontornável mirada para os direitos humanos e a sustentabilidade.
A nossa pauta vislumbra uma universidade sempre respeitada, vibrante, empolgada, capaz de formar cidadãs e cidadãos comprometidos com o país, empenhada na promoção do desenvolvimento científico e da inovação necessários para a efetiva (e afetiva) resolução dos pequenos e grandes problemas regionais, nacionais e globais.
O projeto que defendemos aponta para o cotidiano de uma instituição de ensino superior acolhedora e inclusiva, com um sistema de governança humanizado e atento ao cuidado com estudantes, técnicos, técnicas, docentes e nossos colaboradores, de trabalhadores terceirizados a estagiários. Queremos uma universidade aberta ao diálogo e à integração com a sociedade, pautada pela transparência institucional e, sobretudo, autônoma e democrática.
Sabemos que, mais do que um centro produtor de conhecimento, a universidade é um ponto de convivência de pessoas, seja em seus quatro campi espalhados pelo Distrito Federal (Asa Norte, Planaltina, Gama e Ceilândia), no Hospital Universitário (HUB), em seus hospitais veterinários ou na Fazenda Água Limpa, seja na modalidade de educação a distância que atinge todo o país.
Nos próximos quatro anos, o diálogo e a escuta vão continuar a pautar as ações e as políticas que farão com que a UnB permaneça sendo instituição de referência entre as universidades públicas brasileiras e latino-americanas, lugar de desejo e esperança, espaço do bem-viver e da transformação social.
*Doutora em educação, pesquisadora, professora da Faculdade UnB Planaltina e decana de Extensão da Universidade de Brasília (UnB)