O assassinato de uma adolescente de 15 anos pelo namorado, de 56, estarreceu o país nesta semana. Gilson Cruz de Oliveira Monteiro matou Maria Vitória dos Santos a tiros, em Monteiro (PB), cidade distante 264km de João Pessoa. Eles iniciaram o relacionamento há mais ou menos dois anos, quando a menina começou a trabalhar na padaria do acusado, e passaram a viver juntos há cerca de um ano. Preso em flagrante, Gilson também é investigado por estupro de vulnerável por conta da idade da vítima.
Maria Vitória encaixa-se no principal perfil de vítima da violência contra a mulher no Brasil. Dados de 2023 analisados pelo Monitor de Feminicídios, da Universidade Estadual de Londrina, indicam que seis em cada 10 assassinatos de mulheres no país são praticados pelo atual companheiro ou ex, dos quais 6% dos casos envolvem meninas de até 17 anos — exatamente a faixa etária da adolescente paraibana.
Os números divulgados ontem do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram ainda que a violência sexual contra as mulheres não para de crescer. Os casos de estupro praticamente dobraram em 12 anos. Em 2011, eram 43 mil casos a cada 12 meses. Agora, são praticamente 83,5 mil. A única queda na série histórica ocorreu entre 2020 e 2021, por causa da pandemia de covid-19, que diminuiu a circulação de pessoas nas ruas por conta do isolamento social.
Todos sabemos que estatísticas retratam o passado, mas servem principalmente para moldar o futuro a partir de uma análise aprofundada. Investir em políticas públicas que ampliem a rede de proteção contra as mulheres é fundamental. Só que não é a única ação que precisa ser tomada. Acredito que o passo principal é atacar o machismo, enraizado em estruturas sociais patriarcais e normas culturais discriminatórias. Por isso, é fundamental um trabalho em conjunto da sociedade com o poder público.
Derrubar estereótipos também é mais do que necessário. As redes sociais deram voz a mulheres oprimidas, ajudaram a expor agressões cotidianas, mas precisamos dar um passo além. Um deles é cada vez mais identificar e eliminar a linguagem tendenciosa de gênero na comunicação cotidiana. Comentários machistas precisam e devem ser retrucados. É papel de todos nós.
Denunciar casos de violência segue sendo prioridade. Convido o leitor a abraçar essa luta. Não se cale diante de uma agressão, assim como é importante apoiar as organizações que defendem os direitos das mulheres ou pressionar as autoridades por medidas mais efetivas. Também é possível ajudar financeiramente ONGs que apoiam vítimas de violência ou se voluntariar para atuar em abrigos para mulheres. Sempre há algo que possamos fazer.