Quando estouram escândalos de corrupção envolvendo políticos ou autoridades em quaisquer espaços de poder, não poupamos críticas. Sentimo-nos lesados por aqueles que elegemos ou que chegaram ao ápice das carreiras nos cargos públicos e que, em vez de trabalhar em favor da sociedade, usam a autoridade obtida para obter benefícios pessoais. Ficamos mais indignados ainda quando o malfeitor fica impune. Não falta quem diga que "cadeia é só para pobre e preto".
Em outras ocasiões, reclamamos do mau atendimento nos órgãos públicos e balcão da loja…Enfim, temos convicção de que nossos direitos foram infringidos por pessoas iguais a nós. Quando ocorre o contrário — somos bem atendidos e respeitados — rasgamos elogios aos atendentes e às instituições privadas ou públicas. Mas o que fazer para que seja sempre assim?
Nesse domingo, a reportagem Dificuldades diárias no transporte público (Cidades, pág. 13) revela os absurdos que ocorrem com os idosos, que são usuários de ônibus para se locomover no Distrito Federal. Embora a legislação assegure que todos os assentos de ônibus — não só os demarcados — são preferenciais para idosos, gestantes, passageiros com crianças de colo, com mobilidade reduzida e deficientes, passageiros jovens e sem quaisquer dificuldades ignoram-lhes a presença e não cedem a cadeira que ocupam a nenhum deles. Uma exibição coletiva de desrespeito a esses indivíduos, que pode ser qualificada como má educação, entendida como falta de respeito e de solidariedade com os mais velhos.
Obviamente, não foram em todas as famílias, mas em boa parte delas aprendeu-se respeitar os mais velhos — pais, avós, tios e outros que têm idade acima da nossa. Para eles, cedemos o melhor lugar à mesa, a cadeira mais confortável e, jamais levantamos a voz quando somos alvo de uma reprimenda, devido a um erro cometido. Reconhecemos que o conselho deles, que têm mais experiência de vida, são um alerta para o nosso bem.
Suspeito que os que agem com grosseria com idosos e todos os outros que têm direito ao assento preferencial perdeu a capacidade de se colocar no lugar do outro. Pior: eles jamais se imaginaram idosos, descartam a possibilidade de sofrer um acidente que reduza sua capacidade de mobilidade ou necessitar ficar muito tempo apoiado em muleta dentro de um ônibus lotado. Sequer reconhecem que seu comportamento egoísta é etarismo, ou seja, discriminação e desrespeito aos idosos, um crime previsto no Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, de 6 de outubro de 2003). Talvez fosse interessante ao poder público fazer campanhas ostensivas, contar com os motoristas para garantir às pessoas o acesso à cadeira e orientar idosos e demais passageiros como reclamar seus direitos.
Negar assento aos idosos e aos que como eles têm o direito de viajar sentado no transporte público é se comportar como todos aqueles que nos decepcionaram, como os citados no início deste texto. Aos desavisados seria bom lembrar que "gentileza gera gentileza" e faz bem a qualquer pessoa, sobretudo a quem a pratica.