Inteligência artificial

Artigo: IA acerta se existe vida depois da morte

Pesquisando a vida de cada um de nós, a inteligência artificial (IA) poderá dizer, numa proporção de 78%, quantos anos teremos pela frente. Já se sabe que será possível conversar com os mortos

Arnaldo Niskier*

Pesquisando a vida de cada um de nós, a inteligência artificial (IA) poderá dizer, numa proporção de 78%, quantos anos teremos pela frente ainda pertencendo ao reino dos vivos. Esse modelo de algoritmo foi pesquisado por especialistas dinamarqueses. O estudo foi publicado na revista Nature Computational Science. 

Já se sabe que será possível conversar com os mortos (isso ficou provado). Estudando a vida de 6 milhões de pessoas, entre 2008 e 2016, incluindo rendimentos, profissão, residência, operações feitas e gravidez, quando era o caso, o life2vec, desenvolvido por especialistas da Universidade Técnica da Dinamarca, chegou a acertar aspectos essenciais da existência de cada pessoa, incluindo formas de pensar, sentir e se comportar. O período mais difícil de prever é entre 35 e 65 anos. Acontece muita coisa imprevisível.

Para registro dos seus acertos, os pesquisadores escolheram 100 mil pessoas, em que só a metade sobreviveu. Pessoas do sexo masculino tinham maior probabilidade de sobreviver. Ocupar uma posição de gestão ou ter um rendimento muitas vezes empurrava as pessoas para a coluna da "sobrevivência". As pesquisas continuam em busca de maior precisão nos resultados. O curioso é que isso leva a tomar decisões sobre apólices de seguro, por exemplo, o que é bastante natural.

No  Brasil, o estado de São Paulo avança nesses estudos. Escolas começam a corrigir redação com IA, inclusive textos (e não só pergunta e resposta). Não são só erros gramaticais e ortográficos. Critérios como coerência, argumentação, adesão ao tema, entre outros, são também considerados. A correção é encaminhada diretamente ao professor, que pode validá-la ou modificar o seu valor, a seu  juízo. Via IA, ele pode inserir comentários ao longo do texto. Assim, a Secretaria de Educação vive a expectativa de que se reduza o tempo de correção da redação, o que é um ganho. 

Não há dúvida, hoje, de que a inteligência artificial vai gerar um inequívoco aumento de produtividade. Isso vai mudar a maneira como as empresas trabalham. Já existe o uso acelerado de ChatGPT. Será uma utilização mais lenta do que o imaginado, mas vai acabar funcionando. Vamos unir engenharia e automação, sem a ideia de fazer tudo ao mesmo tempo. Uma coisa de cada vez, com o uso parcelado de dados, informações e aplicações.

É preciso saber como a tecnologia será usada. O desafio é conhecer novas tecnologias. E construir uma cultura organizacional. Há o convencimento de que as coisas vão mudar, mas não será de imediato. Conseguir talentos ou fazer uma requalificação são elementos que demandam tempo, e é preciso que haja paciência. As empresas não podem se deixar levar pelas dificuldades. Não é o caso de substituir os seres humanos. Usamos os dados para alimentar os sistemas, procurando evitar os erros costumeiros no processo.

Lidar com novos métodos de trabalho é um processo feito em cima de dados que levantamos. A maturação da IA ainda deve durar um tempo, mas é certo que o uso da tecnologia vai gerar ganhos operacionais e de receita. Sabe-se, entretanto, que nem sempre as grandes empresas estão preparadas para as necessárias transformações. As modificações deverão levar pelo menos dois anos, para além da atual excitação que se registra.

Por outro lado, como demonstram os chineses, sistemas de leitura e compreensão de texto que imitam o funcionamento do lado direito do cérebro já se encontram em pleno funcionamento. Chips de silício operam de modo muito diferente de neurônios. Liderados pelo linguista Andrew Li Ping, da Universidade Politécnica de Hong Kong, foram criados dois sistemas de IA similares ao ChatGPT, submetidos a testes de leitura.

Procurava-se a estrutura de raciocínio de software mais similar à de humanos. Avança-se, assim, na produção de insights sobre como funcionam as mentes humanas. Assim se pode comparar o funcionamento de máquinas e pessoas. A IA começa a pensar no nível de frases, não apenas palavras. Trabalhar com sentenças foi essencial para o desenvolvimento do processo.

*Membro da Academia Brasileira de Letras

 

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