Dois temas têm movimentado a política internacional. O primeiro deles diz respeito à saúde do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Longe do discurso etarista ou da ideia preconceituosa de que idoso não pode trabalhar, o que se coloca em relação ao líder democrata é a sua integridade física e mental para governar a maior potência do planeta — ainda que muitos acreditem que a China tenha "usurpado" essa posição. Toda e qualquer decisão tomada pelo líder norte-americano tem o poder de refletir nas vidas de milhões — talvez bilhões — de pessoas mundo afora. O inquilino da Casa Branca precisa estar absolutamente pleno de suas faculdades para exercer o cargo. No primeiro debate presidencial, em 27 de junho passado, o que se viu foi um Biden com dificuldades de articulação, que não concluía o raciocínio e deixava frases desconexas no ar.
O anúncio sobre a manutenção da candidatura chega a ser irresponsável. Equivale a conceder ao magnata republicano Donald Trump a oportunidade de voltar a ser presidente. O extremista de direita que agrediu a democracia, ao encorajar uma insurreição popular, em 6 de janeiro de 2021, e fomentar fake news, também é um condenado pela Justiça. O poder nas mãos de Trump equivale à completa falência do bom senso, da ética e da moral na política. É uma prova cabal de que o fanatismo turva a capacidade de raciocínio do cidadão. Trump não poderia nem ser candidato depois da invasão ao Capitólio. A menos de quatro meses das eleições, o Partido Democrata e Biden precisam cair em si e optar por outro nome. Imaginem se Michelle Obama estivesse disposta a disputar a presidência. Carismática, inteligente, competente, altamente capacitada. Imaginem um debate entre ela e o misógino Trump...
Na França, a população saiu em peso para votar pela democracia, pelo respeito às diferenças, pelo Estado de Direito e pelo tratamento humano à imigração. No país construído sob o lema "liberdade, igualdade e fraternidade", a derrota da extrema direita de Marine Le Pen e de Jordan Bardella foi uma demonstração de lucidez em tempos de ódio e de fanatismo. A estratégia do presidente Emmanuel Macron de dissolver a Assembleia Nacional, depois do êxito dos ultraconservadores nas eleições do Parlamento Europeu, chegou a ser interpretada como suicida. A criação de um cordão sanitário para barrar o avanço dos radicais do partido Reagrupamento Nacional também foi bem-sucedida. Agora, Macron precisará travar duras negociações para assegurar a governabilidade. Indisposto a tratativas com Jean-Luc Mélenchon, da extrema esquerda, há quem diga que ele precisará inclinar-se à direita para compor o gabinete.
França e Estados Unidos trazem lições destoantes sobre a democracia. No país europeu, correntes políticas e cidadãos se uniram para barrar o avanço da extrema direita e impedi-la de chegar ao poder. Na terra do Tio Sam, por sua vez, a ala mais conservadora e retrógrada da população deve reconduzir à Casa Branca um bilionário excêntrico, ultradireitista e nada afeito à soberania popular e à doutrina democrática. Seria bom se os norte-americanos aprendessem um pouco com os franceses sobre como repensar o futuro de uma nação.