ISAAC ROITMAN — Professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), pesquisador emérito do CNPq e membro da Academia Brasileira de Ciências e membro do Movimento 2022 – 2030 O Brasil e o Mundo que queremos
A palavra ética é derivada do grego e significa modo de ser. Ela é confundida com frequência com a lei que tem como base princípios éticos. Ela é também relacionada com a moral, mas são diferentes. A moral se fundamenta na obediência a normas, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos; e a ética busca fundamentar o modo de viver e ser. Leonard Boff define a ética como parte da filosofia, e uma pessoa ética quando ela se orienta por princípios e convicções, o que a define como bom caráter e boa índole. Não se exerce a cidadania sem ética e não se exerce a cidadania sem começar de si mesmo.
A ética é transversal para todas as áreas de conhecimento, por exemplo, na economia. Segundo Charles K. Wilber, a economia e a ética estão relacionadas, pois os economistas (teóricos e os construtores de políticas) e os atores econômicos (produtores, consumidores e trabalhadores) seguem princípios éticos que moldam os seus comportamentos. Se só existisse um ser humano no planeta, não existiria a questão ética, porque ela é a regulação da conduta, da vida coletiva. A ética pode, e deve, ser utilizada como tema na educação formal e informal. Ela deve ser semeada nos primeiros anos de vida e deve permear e se consolidar na educação básica e superior.
Um dos mais importantes objetivos da educação é a de formar cidadãos utilizando como conteúdos assuntos que estejam relacionados com as questões sociais que marcam cada momento histórico, para que os estudantes possam exercer seus direitos e deveres. A falta de ética na sociedade dificulta as relações profissionais e pessoais, causando um comportamento social inadequado. Dessa forma, a ética e a responsabilidade social são pilares na educação. Ao mesmo tempo, ela é a bússola para descobrirmos os caminhos que nos conduzem a uma vida virtuosa. Nessa ótica, podemos minimizar ou eliminar problemas como corrupção, violência, preconceitos, segregação social, práticas contrárias à igualdade, conflitos entre classes e etnia, violências contra as mulheres, gravidez precoce, suicídios, guerras e nossa relação e respeito à natureza.
A incorporação de princípios éticos é construída por uma forte parceria entre a escola com a família e com os meios de comunicação e deve ser iniciada na primeira infância (0 a 6 anos). Quanto mais cedo o ser humano refletir sobre a ética, mais cedo iniciará o seu amadurecimento e estará mais preparado para enfrentar as questões do convívio social no dia a dia. Ouvimos, a toda hora, que, atualmente, muitos problemas que o Brasil enfrenta são resultado de que os representantes da população no governo deveriam cuidar dos interesses do povo, mas em muitos casos, aprovam decisões em benefício próprio ou aos interesses de oligarquias que representam. No entanto, essa realidade não é exclusividade dos políticos, sendo um comportamento cultural "levar vantagem em tudo". Sendo assim, uma das formas de provocar mudanças na formação dos cidadãos é inserir, desde cedo, noções éticas na rotina escolar das crianças.
Assistimos perplexos a um distanciamento cada vez maior entre educação e formação. Crianças e adolescentes recebem oceanos de informações prontas, desconexas e, muitas vezes, inúteis, que são incapazes de processar e integrar em um projeto de crescimento em conhecimento e sabedoria. A informação, por si só, não é formação, a ética, é. Na grave crise sanitária devido à pandemia, tivemos a necessidade de responder urgentemente às necessidades da sociedade, os riscos de perda de valores éticos, principalmente a corrupção, aumentaram. As insanidades cometidas literalmente tiraram o oxigênio das pessoas.
Estamos em uma encruzilhada histórica em que podemos agravar as injustiças sociais, a crise climática e as guerras ou aproveitar este momento de grandes transformações para atacar os problemas pela raiz. Essas transformações devem ser feitas com total transparência, em nome do bem comum, tendo como pano de fundo uma ética compatível com um avanço civilizatório, e ela considerada como valor essencial. É pertinente lembrar o pensamento de Mario Sergio Cortella: "É necessário cuidar da ética para não anestesiarmos a nossa consciência e começarmos a achar que tudo é normal".
*Deputado federal (Cidadania-SP), diretor da Frente Parlamentar da Mineração Sustentável (FPMin) e presidente da Comissão Especial da Transição Energética e Produção do Hidrogênio Verde (Ceenergia)