Editorial

Os corredores verdes nas cidades

O cenário das mudanças climáticas exige atenção dos centros urbanos, que podem ser mais afetados em virtude de suas características intrínsecas

Cada vez mais, profissionais da área de planejamento urbano têm procurado melhorar a qualidade de vida dos moradores das cidades de médio e grande portes, sem ignorar os fundamentais princípios de sustentabilidade. Nesse esforço, a pouca ocorrência de espaços verdes, que resulta em consequências adversas para a população, é uma questão essencial. Iniciativas na busca de ampliação dessas áreas — na forma de parques, praças, arborização de vias ou mesmo incentivo aos espaços privados — vêm crescendo.

Alternativa estudada e implantada em diversas partes do mundo — como Colômbia, Canadá, Estados Unidos e em países da Europa —, os corredores verdes estão se consolidando como uma solução ambiental possível até mesmo para reduzir as altas temperaturas decorrentes do aquecimento global. O cenário das mudanças climáticas exige atenção dos centros urbanos, que podem ser mais afetados em virtude de suas características intrínsecas.

A pouca cobertura vegetal está transformando as metrópoles em locais considerados "ilhas de calor". Em meio a uma infraestrutura firmada em concreto, a possibilidade da criação de corredores verdes com modificações nas vias já existentes representa um respiro. Um maior número de calçadas arborizadas também traz benefícios a partir da redução dos níveis de ruído dos veículos e do consumo de combustíveis.

Um bom exemplo é o projeto implementado em Medellín, na Colômbia. Desde 2021, árvores e arbustos são plantados ao longo de ruas, avenidas e cursos d´'água da cidade, o que levou à redução da temperatura em 2°C em alguns locais, segundo estudos desenvolvidos naquele país. Ainda conforme as análises, a presença da arborização reduziu a poluição sonora, melhorou a qualidade do ar e protegeu os recursos hídricos do município colombiano.

A iniciativa de Medellín confirmou que os corredores verdes contribuem com a proteção da biodiversidade e ajudam no gerenciamento das águas, além de proporcionarem oportunidades de recreação para os cidadãos. Uma constatação que poderia ser inspiração para o Brasil. Mas, esse modelo de adaptação das cidades às mudanças do clima também precisa do apoio da população. O planejamento necessita ser discutido pelos diversos setores da sociedade, assim como os investimentos para colocar em prática a proposta.

Atitudes isoladas têm sido registradas e merecem reconhecimento, inclusive com a dedicação de brasileiros que decidem colocar a mão na terra e espalhar vegetação onde habitam. Porém, o resultado seria maior a partir de ações articuladas e amplas. Escolhas políticas, que destinem orçamento e energia para os corredores verdes, podem mudar a realidade urbana sufocante encarada nos dias atuais.

Fato é que as mudanças climáticas exigem uma reação imediata e as cidades devem estar atentas às possibilidades de alterações estruturais que podem impactar positivamente no cotidiano da população. O entendimento de que não há espaço para retardar a tomada de medidas ambientais nas metrópoles é urgente. Os debates sobre como transformar o cinza em verde precisam ocupar espaço maior no Brasil. Defender essa causa pode fazer a diferença na qualidade de vida hoje e no futuro.

 

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