ARTIGO

Amigos, parte da gente

Tenho um orgulho danado de dizer que tenho amigos. Estão espalhados por esse mundão de meu Deus, nos cinco continentes, fora esse Brasilzão

 A vida não está nada fácil e, volta e meia, ainda aprecia pregar peças na gente, doença de uma pessoa querida, prognóstico ruim de outra, conta que não estava programada, demissão que surpreende e assim vai...E com quem contar nessas horas? Família, às vezes. É que, em geral, os parentes estão enrolados com você nessa história toda, aí? Bem, vêm eles, os heróis, que surgem sei lá eu de onde e pronto! Te ajudam a resolver, os amigos.

Tenho um orgulho danado de dizer que tenho amigos. Tenho mesmo. Estão espalhados por esse mundão de meu Deus, nos cinco continentes, fora esse Brasilzão. Pessoas que conheci nos mais distintos momentos da vida. Gente que se eu enviar uma mensagem ou ligar, pode até demorar a responder, mas atende. E, o melhor: conversa comigo como se estivéssemos um pertinho do outro como sempre foi.

Amigo. Aquela pessoa que não te julga, que gosta de você com todos seus defeitos e suas manias, que ri dos seus perrengues e que te ajuda com eles, que não quer saber se você fez uma escolha ruim num momento-chave da sua vida. Simplesmente vai lá e te estende a mão. Sim, porque a pior coisa que tem é quando você se mete em encrenca — ou a encrenca se mete com você — e vem um "senhor da razão" ou "senhora" e te julga.

Falta de paciência com essas pessoas que tudo sabem e tudo veem. Quem nunca? Quem nunca escolheu mal? Quem não deu um mau passo? Quem não deslizou? O negócio é levantar a cabeça e seguir em frente. O difícil é fazer isso sozinho, aí quem surge como num passe de mágica? O amigo. É isso, sempre ele. 

O engraçado é que o amigo nem sempre te liga, está por perto ou acompanha sua vida nos mínimos detalhes. Mas, quando você precisa, lá está a figura. Nem pergunta o porquê do rolo, só te lança a frase maravilhosa: "O que você precisa que eu faça?". E, vai lá e faz. Pronto. Um alívio para quem se vê desesperado. Vivi isso recentemente, uma amiga de infância que, infelizmente, reencontrei em um enterro, deu um belo sorriso e falou: "Vamos ali". Ela me levou para dar uma volta de carro, sorrir e lembrar a história de quando éramos meninas, na escola de freiras. Foi o suficiente para meu dia ficar mais leve.  

É interessante que, no meu caso, os amigos não têm nada a ver um com o outro. É possível unir a todos, em um mesmo ambiente, e eles mal se entenderem. Tenho amigos para todos os estilos, idades, porque aprendo com os jovens e os mais velhos me ensinam o tempo todo. Também daria para montar uma agência de empregos — de físico a diplomata, passa por médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, advogados, jornalistas e professores aos montes, marceneiro, eletricistas, encanador, artesão, artista e por aí vai. Tem também desempregados, mas jamais desocupados. A explicação que eu encontro para isso sou eu mesma. São pessoas muito diferentes, como eu devo ser.

Mas o que isso importa? Amigos são parte de mim. Pessoas que eu amo incondicionalmente, que me estendem a mão, que dão carinho, que falam a palavra certa na hora precisa. Não me importa a corrente política, religião, profissão ou vida pessoal. Sendo digno, correto e ético, está tudo certo. Esse é o único critério para ganhar o título de "amigo". O restante é complemento. A vida é muito mais do que um amontoado de debate vazio sobre pessoas que nem fazem parte do nosso dia a dia, é a oportunidade de a gente ser feliz com pequenos momentos ao lado de pessoas que realmente valem a pena.

 

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