Seca extrema nos rios da Amazônia. Desmatamento recorde no Cerrado. Queimadas crescentes no Pantanal Mato-grossense. A maioria dos municípios gaúchos, inclusive a capital, Porto Alegre, foi destruída por temporais e enchentes de rios e lagos. Essas e outras catástrofes que arrasam várias regiões do país e ocorrem também em outros países são lamentáveis demonstrações de que o planeta está doente devido às mudanças climáticas. A recente série Esperança azul, publicada pelo Correio Braziliense nos três últimos domingos, mostrou que os oceanos não são poupados do aquecimento global decorrente da emissão de gases de efeito estufa e da relação agressiva da humanidade com a natureza.
Os estudos científicos abordados ao longo da série de reportagens mostram que os oceanos são um dos maiores captadores de CO2 do planeta e têm tido essa capacidade vital sabotada pelo comportamento humano, principalmente pelos que insistem em negar que o planeta esteja enfrentando mudanças prejudiciais à vida de todos os seres. A flora e os micro-organismos dos mares, por meio de processos geoquímicos, têm muito a contribuir para mitigar os efeitos do aquecimento global capturando naturalmente o carbono. "Precisamos compreender que as comunidades microbianas estabelecidas nos oceanos e em outros locais, como solos, rios, fontes termais, são produtos de milhões de anos de evolução", adverte Igor Taveira, professor substituto de microbiologia no Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
No Brasil, as mais de 2 mil praias, ao longo dos 8,5 mil quilômetros da faixa costeira, abrangendo 17 estados e mais de 400 municípios, não recebem os cuidados necessários para impedir a poluição dessa bainha do Oceano Atlântico. Não surpreendem a identificação de redes de esgoto, clandestinas ou não, desembocando no mar e a ausência de coletores de lixo nas praias, com orientação educativa aos frequentadores.
A situação é mais crítica nas praias em áreas urbanas, em que há maior densidade de detritos, como plástico, isopor, filme, filtro de cigarro, filamentos, espumas, borracha, silicone e tecidos, segundo identificou a pesquisadora Tamyris Pegado, do Laboratório de Biologia Pesqueira e Manejo de Recursos Aquáticos da Universidade Federal do Pará. Entre as praias que atraem grande fluxo de banhistas e turistas e, hoje, têm áreas impróprias para banho, estão Barra da Tijuca (RJ), Ilhabela e Santos (SP), Boa Viagem (PE), Ondina (BA), Maragogi (AL).
O descuido na implantação e na manutenção de equipamentos urbanos afeta tanto a saúde humana e ambiental quanto a economia das cidades. Pontos turísticos e de entretenimento acabam rejeitados pela população e pelos visitantes, além dos impactos nas atividades pesqueiras. Os impactos da desenfreada ação humana não se restringem às áreas povoadas. Os microplásticos — um dos maiores poluentes da atualidade — já são encontrados até na Antártida.
Embora sejam recorrentes os alertas de pesquisadores, cientistas, climatologistas e tantos outros especialistas, boa parte da sociedade, alimentada por falsos e controversos dados, acredita que não há meios de evitar o aquecimento do planeta e todos os dados dele derivados. Para isso, é preciso mudar a relação humana com o meio ambiente. Essa transformação poderia ter avançado a partir da aplicação da Lei nº 9.7905/1999, que dispõe sobre a educação ambiental em toda a sua transversalidade e interdisciplinaridade — ou seja, desde o ensino básico até o superior.
Para a pesquisadora Tamyris Pegado, ainda é possível virar a chave com medidas individuais baseadas nos três Rs — reduzir, reutilizar e reciclar —, que levam à sustentabilidade. Isso, porém, não elimina a responsabilidade do poder público de investir em políticas ambientais que tornem o país exemplo de redução das emissões de gases de efeito estufa e de preservação do patrimônio ambiental, seja na terra, seja no mar.