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É hora de investir no aumento da qualidade assistencial em saúde

É hora de aumentar a qualidade assistencial sobre as doenças cardiológicas

Para elevar a excelência da assistência cardiológica aos brasileiros, é crucial reformular o paradigma da medicina centrada no médico herói, deixando de lado o contexto menos focado na capacidade individual em busca de um modelo mais colaborativo e de aprendizado contínuo, uma prática com estruturas menos hierárquicas e centradas no olhar integral para o paciente. Isso implica pensar um sistema que minimize desperdícios (de recursos financeiros, insumos e até de tempo), priorizando a segurança e a qualidade e ampliando o acesso aos serviços de saúde.

Esse é um grande desafio em um contexto no qual os problemas cardiovasculares figuram como a principal causa de mortalidade no Brasil e no mundo. De acordo com o relatório Carga global de doenças e fatores de risco cardiovasculares, do Institute for Health Metrics and Evaluation, apenas em 2022, cerca de 400 mil brasileiros faleceram por questões cardiológicas. Além da perda de vidas, a alta prevalência impõe um grande impacto econômico aos países.

Projeções da American Heart Association mostram que os custos totais relacionados com as doenças cardiovasculares, provavelmente, triplicarão até 2050 nos Estados Unidos. Caminho que o Brasil não precisará percorrer se adotar a integralização dos cuidados em cardiologia para reverter as estatísticas nacionais, já que essas são as patologias que mais causam perdas em qualidade de vida e financeiras aos sistemas de saúde, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia.

A mudança passa pela reeducação e o engajamento dos profissionais, além da adoção de protocolos que padronizem os cuidados com responsabilidade, transparência e espaço para adaptações constantes com base nos resultados obtidos. E algumas medidas concretas podem ser implementadas.

Uma delas é a desfragmentação da linha de cuidado. A maior dificuldade do modelo assistencial no Brasil ainda reside em transitar de um sistema centrado nas intervenções hospitalares para outro mais amplo, que contemple não só as complicações de doenças, mas a prevenção e o acompanhamento continuado do indivíduo. Afinal, é preciso garantir que a pessoa que sofreu um infarto, por exemplo, tenha o acompanhamento pós-alta adequado para evitar complicações e reinternações desnecessárias.

Outra é a valorização da jornada do paciente. O cuidado adequado precisa incluir os valores e as preferências do paciente. É essencial envolvê-lo nas decisões médicas, considerando apreensões e expectativas. Muitas vezes, nós, médicos, estamos preocupados com a taxa de mortalidade ou o tempo de internação hospitalar, mas o paciente está mais aflito em saber se sentirá dor ou em quanto tempo poderá voltar a trabalhar, por exemplo. Esses fatores também devem ser levados em consideração ao se decidir pela incorporação de novas tecnologias "menos invasivas" que, normalmente, reduzem o trauma relacionado a intervenções.

Também aponto as tecnologias que agregam qualidade e segurança. As inovações precisam estar alinhadas com o contexto de melhorar a excelência do cuidado. Algumas cirurgias complexas, como o transplante cardíaco e o uso de coração artificial, só fazem sentido se concentradas em centros que têm demanda suficiente de casos, senão acabam desperdiçando recursos.

Inclusive, as inovações tecnológicas não se limitam a novos dispositivos. Entre as novidades mais promissoras, estão os sistemas de inteligência artificial. Atualmente, existem softwares que alertam os cuidadores da existência de alergias e interações medicamentosas, calculam a chance de piora ou deterioração clínica nas próximas horas, ou que fazem a leitura de eletrocardiogramas em tempo real, ajudando na tomada de decisões melhores e mais rápidas. Apesar do custo de incorporação, alguns sistemas prometem facilitar os processos assistenciais, aperfeiçoar a precisão do diagnóstico e ampliar o tempo útil de interação entre o profissional de saúde e o paciente.

Para se garantir a eficiência dos sistemas de saúde, é necessário avaliar as vantagens e os gargalos de cada centro médico. Tendo esses pontos como norte, já seremos capazes de avançar na construção de um modelo de saúde com melhor qualidade e segurança, centrado nas demandas de cada paciente e capaz de enfrentar os crescentes e complexos desafios para o sistema de saúde, tanto das doenças cardiovasculares, como de outras áreas da medicina.

*Alexandre Siciliano, Cirurgião cardíaco, head do Setor de Cardiologia do Hospital São Lucas Copacabana, da Dasa, e da Academia Nacional de Medicina

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