Não é incomum ouvir dicas ou sugestões de coaches em trabalho sugerindo uma separação substancial entre a vida profissional e a pessoal. "Colegas de trabalho não são amigos" ou "Seja impessoal, não misture trabalho com emoções" são alguns dos mantras perpetuados pela visão cartesiana do engessamento de qualquer relação profissional.
Tais argumentos podem ser importantes em alguns níveis, mas são relativos em outros. Como não vou considerar próxima uma pessoa que vejo diariamente (às vezes, mais do que qualquer outro membro da minha família)? Podem me chamar de emotivo — ou emocionado, no caso dos mais jovens—, mas não me parece humano tratar colegas de trabalho como caixinhas mecânicas e cheias de indiferença.
É normal que colaboradores no ambiente de trabalho se tornem amigos — ou até mesmo desafetos — ao longo dos anos de convivência. As emoções humanas existem e são refletidas pelas interações sociais de diversas maneiras. É um desafio de sísifo tentar "desligá-las" por 40 horas semanais.
Óbvio que um ambiente profissional precisa de limites, uma ordem. Não é isso o questionado aqui. Afinal, se deixássemos as emoções controlar todas as interações, um verdadeiro caos tomaria conta de um ambiente em que, na maioria das vezes, preza-se pela produtividade e pela concentração.
O que pondero, contudo, é a licença para perceber que todos ao nosso redor, em qualquer ambiente, inclusive no trabalho, são dignos de uma ligação, de uma emoção. E não se justifica uma tentativa de indiferença às alegrias e aos sorrisos vividos no ambiente de trabalho ao lado dos colegas.
Uma pesquisa publicada em 2023 pelo portal Think Work fez um paralelo entre relações de trabalho e saúde mental. Segundo o documento, de todas as pessoas que não consideravam ter amigos no ambiente de trabalho, 21% dos ouvidos (a pesquisa foi realizada de forma on-line) apontaram "se sentir bem todos os dias". Outros 37% disseram que "se sentiam bem na maioria dos dias".
Já quando os números levam em consideração as pessoas que consideram ter amigos no ambiente de trabalho, as porcentagens sobem. Foram 26% dos ouvidos dizendo "se sentir bem todos os dias", enquanto 42% dizem "se sentir bem na maioria dos dias".
Números à parte, neste artigo de estreia, queria deixar registradas as emoções de saudade e gratidão de duas amigas de trabalho que deixam a equipe a partir de hoje para se aventurarem em outros projetos profissionais.
Thays Martins e Helena Dornelas fizeram, por anos, parte da minha rotina. Compartilharam conhecimentos, felicidades, sorrisos e, agora, resta aquele bom sentimento de agradecimento pelo tempo compartilhado, pelas memórias de um ambiente de trabalho mais rico e satisfatório.
A grande verdade é que os colegas de trabalho significam mais do que os coaches da área gostariam. No fim das contas, como provaram Thays e Helena, colegas de trabalho podem, sim, se transformar em bons amigos.