Pela primeira vez no Brasil, uma Parada do Orgulho LGBTQIAPN trouxe como tema a terceira idade. E isso ocorreu ontem, em Brasília, atestando que a capital federal é o palco ideal para colocar em foco discussões sensíveis e importantes que afetam a população de um modo geral, independentemente de sua cor, raça ou orientação sexual. E o etarismo é um câncer na sociedade que também se alastra no universo de gays, lésbicas e transexuais.
O idadismo manifesta-se de várias maneiras. A representação midiática é uma delas. Em séries, filmes e campanhas publicitárias, os personagens mais velhos são raros e, quando aparecem, frequentemente são estereotipados. Sugar daddy, milf, o velho da lancha... Essas ridicularizações contribuem para a perpetuação da ideia de que a juventude é o único período válido para a expressão da sexualidade.
E não é diferente na comunidade representada pelo arco-íris, que enfrenta desafios históricos e diversos também internamente. O etarismo invisibiliza a identidade de quem deveria ter sua existência festejada.
O movimento queer tem uma dívida histórica com seus membros mais velhos. Foram essas pessoas com rugas de expressão e marcas de feridas pelo corpo e pela alma que abriram caminho para as conquistas de direitos que, hoje, consideramos garantidos. As revoltas de Stonewall, por exemplo, não teriam ocorrido sem a coragem de pessoas trans e gays que, lá nos anos 1960, enfrentaram a repressão policial. Homossexuais e bissexuais que passaram pela epidemia da Aids encararam medos, agressões e batalhas que permitiram à garotada atual uma prática sexual menos apreensiva em relação à doença que tirou tantas vidas. E esses pioneiros não podem ser jogados ao esqucimento social.
Promover uma mudança cultural dentro do próprio movimento LGBTQIAPN é essencial. É preciso educar as novas gerações sobre a importância de respeitar e valorizar as contribuições de quem chegou há mais tempo no processo. Também é necessário investir desde a criação de espaços de socialização seguros e acessíveis até o fornecimento de serviços de saúde mental e suporte social. Ter mais de 60 anos, na maioria das vezes, pode significar não ter mais pais, tios, irmãos e, no caso dos gays, lésbicas e trans, a ausência conjugal e de filhos é muito mais comum do que entre os heterossexuais.
Não é só questão de gosto. A luta por igualdade e inclusão deve ser abrangente, reconhecendo e valorizando todos os corpos. Muitos idosos LGBTQIAPN que viveram suas vidas em tempos em que ser aberto sobre a orientação sexual ou identidade de gênero era extremamente perigoso, sentem-se isolados e negligenciados.
As histórias e experiências desses indivíduos são frequentemente esquecidas ou desvalorizadas, deixando-os sem espaço para se expressar ou para receber apoio adequado. Isso não só os coloca em uma posição de vulnerabilidade, mas também impede que a comunidade como um todo se beneficie da sabedoria e da experiência acumuladas ao longo dos anos.
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