Sob intensa pressão de aliados, Joe Biden abre mão de seguir na disputa pela presidência dos Estados Unidos de maneira inédita — sem um pronunciamento à nação e a pouco mais de 100 dias do pleito —, causa uma reviravolta na corrida eleitoral, tenta preservar o seu legado político, mas não deve ter calmaria nos últimos dias à frente da Casa Branca. Nem deixará de ser um dos pontos mais estratégicos na eleição que decidirá quem vai susbtituí-lo. É o que sinalizam democratas, republicanos e outros atores políticos desde que a desistência histórica foi anunciada.
A declaração imediata de apoio a Kamala Harris feita por Biden teve repercussão instantânea — uma arrecadação em doações de ao menos US$ 50 milhões em um único dia e uma espécie renovação de ânimos diante de um cenário bem mais favorável à vitória dos republicanos, fortalecido pelo atentado sofrido por Donald Trump no último dia 13. Se confirmada como candidata à presidência, porém, Kamala será cobrada pelos adversários justamente por ser próxima a Biden.
Já no domingo, líderes republicanos a acusaram de ser cúmplice de um suposto esquema para não revelar à população o real estado de saúde do presidente. Em entrevista à CNN, o estrategista Scott Jennings indicou uma nova tática da campanha: "Bater na tecla que Kamala é o Biden com outro nome". Junto, vem uma forte pressão para que o presidente renuncie ao cargo por ser uma "ameaça à segurança nacional em grande declínio cognitivo e um perigo claro" aos americanos, infla comunicado da campanha de Trump.
Os ataques a Kamala durante a Convenção Nacional Republicana, que terminou às vésperas da desistência de Biden, também já tinham o objetivo de associá-la a erros do presidente. A vice recebeu a alcunha de "czar da fronteira" — em referência à política migratória que, segundo opositores, é responsável pelo aumento de imigrantes no país e a consequente crise na segurança. Certamente, outras medidas impopulares da gestão Biden cairão sobre a campanha da vice, que deu sinais de que não tentará um distanciamento. Ontem, em tom de campanha, ela disse que "o legado de Joe Biden nos últimos três anos é inigualável na história moderna".
Ainda que os democratas escolham um outro nome para entrar na disputa contra Trump ou que Kamala mude o discurso, Biden não sairá da disputa. Uma campanha mais progressista e/ou que traga a ideia de renovação inevitavelmente terá os feitos e os não feitos do atual presidente como referência — temas que também farão parte das narrativas dos adversários. Não há para onde correr. Mesmo fora das cédulas, Biden seguirá sendo figura-chave na conturbada eleição de 2024, assim como os resultados das urnas marcarão sua trajetória política trilhada há quase 50 anos.
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