Saúde

Visão do Correio: Avanço na imunização deve ser contínuo

A melhora na vacinação de crianças não apaga o rastro de anos de baixa cobertura vacinal no Brasil. Também não ameniza o temor em relação ao retorno de doenças consideradas controladas ou erradicadas, como sarampo e poliomielite

Vacina -  (crédito: Reprodução da internet)
Vacina - (crédito: Reprodução da internet)

Notícia divulgada na última semana movimentou as autoridades brasileiras da área de saúde de maneira positiva. O Brasil avançou na imunização infantil e deixou de fazer parte da lista dos 20 países com mais crianças não imunizadas no mundo. Os dados foram lançados em parceria pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância  (Unicef) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a partir de um estudo sobre imunização infantil no mundo, o WUENIC. 

Surpreendentemente, os dados gerais são inversamente proporcionais à nova realidade brasileira. A cobertura global de imunização infantil ficou estagnada em 2023, deixando 2,7 milhões de crianças a mais não vacinadas ou com imunização incompleta, em comparação aos níveis pré-pandemia de 2019, de acordo com o levantamento. Com relação às três doses da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DTP), considerada um indicador-chave para a cobertura vacinal global, o número de crianças que não receberam uma única dose aumentou de 13,9 milhões em 2022 para 14,5 milhões em 2023.

O salto no Brasil, por sua vez, foi significativo. Em 2021, 687 mil crianças não haviam recebido a primeira dose da DTP. Esse número caiu para 103 mil no ano passado. Já a não cobertura da DTP3 reduziu de 846 mil para 257 mil nos mesmos anos. Com importante evolução em 14 dos 16 imunizantes pesquisados, o país que ocupava o 7º lugar do perigoso ranking deixou de fazer parte da lista.

A boa notícia, no entanto, não apaga o rastro de anos de baixa cobertura vacinal. Principalmente em 2016, quando foi registrada uma queda vertiginosa nos índices de vacinação, e, a partir de 2020, quando os números de doses utilizadas não chegaram a 70%, bem aquém dos 95% recomendados pela OMS.  

Também não ameniza o temor em relação ao retorno de doenças consideradas controladas ou erradicadas em terras brasileiras, a exemplo do sarampo (o vírus voltou a circular no país em 2018) e da poliomielite (últimos registros são de 1990) — temas que tomaram as páginas dos jornais recentemente, diante da baixa frequência de crianças abaixo de 5 anos em postos de saúde e clínicas de imunização.  

Prova dessa preocupação é a nova onda de casos de coqueluche, registrada nos dois últimos meses, especialmente nos estados de São Paulo (165 casos) e Rio de Janeiro (34 casos), e com um quadro de disseminação muito mais preocupante na Europa — de acordo com o Centro Europeu de Controle e Prevenção das Doença, foram registrados 32 mil casos da infecção respiratória altamente transmissível apenas nos três primeiros meses de 2024, superando o registro de todo o ano anterior, de 25 mil casos. Não se pode esquecer, também, da febre amarela, cujos números deste ano no Brasil já são quatro vezes maiores do que os do ano anterior.

Os desafios persistem e envolvem uma série de ações, que vão desde a busca incansável por meninos e meninas que ainda não receberam vacinas até o envolvimento de serviços de saúde, escolas, pais,  autoridades governamentais, entre outros atores sociais. Como recomenda a ONU, é necessária a união de esforços de toda a sociedade para elevar as taxas de vacinação no Brasil e no mundo, tornando os 95% de cobertura vacinal recomendados pela OMS algo atingível ainda que nos próximos anos.

 


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postado em 22/07/2024 06:00
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