Educação

Artigo: Brasília, capital olímpica

A partir do dia 23, Brasília sediará a Olimpíada Internacional de Linguística. Evento com delegação de 39 países integra estudantes, capacita professores e promove a diversidade linguística

2015. Crédito: @richarddeassis/Instagram. Mulher lê livro próximo a painel de Athos Bulcão. -  (crédito: @richarddeassis/Instagram)
2015. Crédito: @richarddeassis/Instagram. Mulher lê livro próximo a painel de Athos Bulcão. - (crédito: @richarddeassis/Instagram)

Bruno L’Astorina*, Gustavo Wigman**

Brasília recebe, de 23 a 31 de julho, a primeira edição da Olimpíada Internacional de Linguística realizada no Hemisfério Sul. Durante uma semana, a capital do país será a capital da educação e das diversas línguas escolhidas pelas 50 delegações de 39 países, incluindo as mais de 200 línguas faladas no Brasil, em um evento que integra estudantes do mundo todo, capacita professores brasileiros e promove a diversidade linguística.

As Olimpíadas do Conhecimento (OCs), com o formato que conhecemos hoje, nasceram no fim do século 19, no leste europeu, com o objetivo de disseminar conhecimento, fomentar a autonomia estudantil, a cooperação entre participantes e, principalmente, de impactar a educação, buscando uma aproximação entre o conhecimento acadêmico e a necessidade prática do mercado.

No mundo todo, as OCs são uma importante política educacional. Cidades que as adotam como instrumento de estímulo educacional têm melhor desempenho geral em todas as disciplinas e uma média maior de alunos ingressando em universidades e projetos de pós-graduação. Um exemplo notável é Cocal dos Alves, no Piauí. Antes entre os 50 piores municípios do país em Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e com quase 95% da população dependente do Bolsa Família, a cidade começou a participar de olimpíadas e, hoje, seu Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é superior à média do estado, ao da capital, Teresina, e à média nacional.

As olimpíadas estimulam valores educacionais que nem sempre são adotados nas escolas e são relevantes para a formação de adultos autônomos, dotados de iniciativa e mais propensos a trabalharem em equipe. A pedagogia dos problemas, que norteia as OCs, desperta o interesse do aluno, a sua autonomia educacional, ao mesmo tempo em que os obriga a trabalhar em equipe para atingirem os objetivos propostos.

Esses valores são tão importantes para as OCs que uma das ações que ocorrem em todas as olimpíadas é a realização de cursos gratuitos de capacitação para professores ministrados por especialistas das áreas em questão. Além da troca de conhecimento e experiências, é um rico espaço de networking, que amplia a visão de mundo de todos os envolvidos. Não será diferente na 21ª Olimpíada Internacional de Linguística, em Brasília, e também a primeira do Hemisfério Sul.

O Brasil, ao longo dos anos, tem se destacado nas Olimpíadas do Conhecimento. O país conta com o maior número de participantes, com mais de 22 milhões de alunos anualmente. Embora a primeira medalha de ouro tenha sido conquistada apenas em 2011, na Olimpíada Internacional de Física, desde então, já acumulamos mais de 60 medalhas, transformando a vida dos vencedores, dos participantes e das comunidades em que estão inseridos.

Por acreditar nisso, o Instituto Vertere, que fomenta e promove OCs no Brasil, buscou parcerias com as associações acadêmicas de diversas áreas para mudar o perfil dos participantes. Tradicionalmente, participavam das olimpíadas jovens de escolas particulares, brancos, do sexo masculino e das regiões centro-sul do país. Na Olimpíada Brasileira de Linguística, a maior parte dos participantes é oriunda de escolas públicas e mulher, há uma diversidade crescente e muitos participantes competitivos das regiões Norte e Nordeste.

Sem dúvidas nenhuma, a adoção pelo Brasil, em 2005, de uma política voltada à participação de estudantes nesse tipo de competição foi decisiva para esses resultados, e, hoje, temos competidores promissores e outras mudanças em políticas públicas que estimulam a participação dos estudantes. Diversas universidades públicas de ponta destinam vagas para medalhistas das olimpíadas. É o caso de Unicamp, Unesp, USP, Unifei, UFMS e do Instituto Federal do Sul de Minas.

Nesse contexto, a realização da Olimpíada Internacional de Linguística em Brasília se mostra muito promissora. Aqui, temos representações internacionais de quase todos os países do mundo. Brasília é uma cidade segura, o que facilita o acolhimento de jovens. A proximidade com os ministérios de pastas afins ajuda na tangibilização da política pública adotada e o financiamento desse tipo de iniciativa. O apoio do Governo do Distrito Federal, fundamental tanto pelos recursos e acessos como pela expertise em realização de eventos de grande magnitude, além do alto índice de escolaridade e escolar dos alunos das escolas públicas e privadas do DF, compõe um cenário promissor para transformar Brasília na capital olímpica do país, atraindo outras edições de olimpíadas de conhecimento e eventos similares. Teremos, agora, uma mostra do que Brasília pode oferecer e receber de conhecimento e diversidade linguística e cultural.

*Coordenador local e membro do Comitê de Problemas da Olimpíada Internacional de Linguística; 

**Presidente do Instituto Vertere

 

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Bruno L’Astorina*, Gustavo Wigman** - Opinião
postado em 20/07/2024 06:00
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