A imagem de Donald Trump com o rosto ensanguentado e o punho em riste conclamando os apoiadores para a luta logo após sofrer um atentado ganhou o mundo. Entrou para a iconografia americana, sendo, inclusive, comparada à histórica imagem de fuzileiros navais hasteando a bandeira estadunidense na ilha de Iwo Jima, uma fortaleza japonesa, na Segunda Guerra Mundial. No imaginário coletivo, também está sendo confrontada com a imagem atual do adversário Joe Biden — cresce a percepção de que o democrata não tem mais vigor físico e cognitivo para seguir na Presidência. É cedo para afirmar os impactos do episódio do último sábado nas eleições de novembro, dizem especialistas. Mas é certo, desde agora, que o que aconteceu no comício na Pensilvânia serve de alerta para todo o mundo sobre os riscos da extrema polarização política.
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Líderes foram enfáticos nesse ponto ao repudiar a tentativa de assassinato sofrida pelo candidato republicano que tenta voltar à Casa Branca. Segundo o presidente francês, Emmanuel Macron, trata-se de uma "tragédia para as democracias". O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse que "a violência política, em qualquer forma, não tem lugar em nossas sociedades". Ao ser questionado se o atentado poderia favorecer candidaturas da extrema-direita, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, respondeu não saber, mas ter certeza de que o episódio "empobrece a democracia".
Declarações com conhecimento de causa. Em 2016, uma semana antes do Brexit, o referendo para a saída do Reino Unido da União Europeia, a parlamentar trabalhista pró-europeia Jo Cox foi morta a tiros e facadas por um agressor de extrema-direita. Uma França bastante polarizada acaba de finalizar as eleições legislativas marcadas por campanhas violentas — incluindo agressões físicas a candidatos e apoiadores dos diferentes polos. E o Brasil começa as eleições municipais sob uma forte polarização política há pelo menos uma década, quando Dilma Rousseff foi reeleita para a Presidência, e a expectativa de que os próximos resultados das urnas vão desenhar a disputa de 2026.
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O processo da volta de Lula à Presidência em 2022 demonstra o quanto a violência política e eleitoral tem crescido no país. Pesquisa das organizações de direitos humanos Justiça Global e Terra de Direitos mostra que os dois meses que antecederam o primeiro turno daquele pleito registraram quase o mesmo número de episódios de violência política e eleitoral do que os sete primeiros meses de 2022. Entre 1º de agosto e 2 de outubro, ocorreram, em média, dois casos de violência política por dia. Até 2018, uma pessoa era vítima a cada oito dias, a partir de 2019 o período médio entre um registro e outro caiu para 48 horas.
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A arraigada desigualdade social, a prática disseminada de corrupção e a forte sensação de insegurança estão entre os fatores que têm levado os brasileiros a se identificarem com os discursos radicais. Em outros países, pesam questões como imigração, repressão a movimentos populares e acesso facilitado às armas. Quaisquer que sejam os motivos, ataca-se diretamente o diálogo, um dos pilares da democracia, sempre que divergências políticas são resolvidas à bala ou com qualquer outro tipo de violência. Não faltam relatos e imagens também históricos atestando as consequências desse perigoso caminho.
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