Música

Panis et Circenses

Sob a liderança de Caetano Veloso e Gilberto Gil, o Tropicália, também conhecido como Panis et Circenses, tornou-se um dos discos mais bem avaliados pela crítica

Gilberto Gil e Caetano Veloso: homenagens em forma de livros -  (crédito: Fotos: Marcelo Tabach/Divulgação)
Gilberto Gil e Caetano Veloso: homenagens em forma de livros - (crédito: Fotos: Marcelo Tabach/Divulgação)

O Brasil vivia sob a tutela da ditadura militar quando, em maio de 1968, artistas originários do icônico festival da TV Record, ocorrido um ano antes, juntaram-se na criação de uma das páginas mais emblemáticas do compêndio da música popular brasileira: a da Tropicália.

Sob a liderança de Caetano Veloso e Gilberto Gil, participaram da gravação desse disco-manifesto Tom Zé, Torquato Neto, Rogério Duprat, Gal Costa, Nara Leão e os Mutantes. O grupo era formado por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, jovens recém-saídos da adolescência. 

Colagens, efeitos de sonoplastia, trilhas incidentais e a fusão de elementos da cultura brasileira com tendências estrangeiras da época são características do Tropicália, que tem como referência o Sgt. Pepper´s Lonely Heart Club Band, o álbum mais cultuado da obra dos Beatles. 

Por sua originalidade, o Tropicália, também conhecido como Panis et Circenses, tornou-se um dos discos mais bem avaliados pela crítica  entre os tantos lançados no país ao longo dos anos. A Universal Music acaba de promover o retorno ao mercado dessa relíquia — em vinil.

Caetano e Gil gravaram o LP num estúdio de quatro canais, em São Paulo, sob a direção de Manoel Barenbein, a exemplo do que George Martin fazia com os Fab Four, em Londres, mas tiveram muito menos tempo — apenas quatro semanas — e recursos tecnológicos e financeiros.

No diversificado repertório, foram reunidas 12 canções de diferentes estilos, com arranjos do maestro carioca Rogério Duprat. O lado A traz na abertura Miserere nobis, uma espécie de prece ácida, com letra que rima  Brasil com fuzil. 

Em seguida, ouve-se o dramalhão Coração materno, de Vicente Celestino, com pungente versão de Caetano Veloso; Panis et Circenses, cantada pelos Mutantes; o bolero Lindonéia, na suave voz de Nara Leão; Parque industrial, com Tom Zé, parceiro de Gilberto Gil em Geléia geral.

Baby, a mais bela composição do LP que, com a sofisticada interpretação de Gal Costa transformou-se num clássico, é ouvida na  abertura do lado B, que traz ainda a versão de Braguinha para o mambo Três caravelas, Enquanto seu Lobo não vem (que denunciava a repressão da ditadura), Mamãe coragem e Bat macumba. Fecha o set list Hino do Senhor do Bom Fim, de Wanderley Arthur de Salles, composta para comemorar o centenário da independência da Bahia.

Há mais de 20 anos, Tropicália, ou Panis et Circenses, figura no top 10 de das enquetes e eleições sobre os melhores discos brasileiros de todos os tempos. Não por acaso, em 1989, o selo Luaka Bop, de David Byrne, o lançou nos Estados Unidos sob o título Brazil Classics 1: Beleza Tropical.

Quinta-feira próxima, às 20h30, o movimento tropicalista ganha homenagem em Brasília com o show Tropicália Viva, no Espaço Cultural do Choro (Eixo Monumental), protagonizado por Leana e Chris Barea, com o acompanhamento do grupo Passo Largo e a participação do cantor Fred Brasiliense.

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postado em 16/07/2024 06:00
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