No mês em que se comemora os 30 anos do Plano Real, como que em uma deferência, a inflação oficial divulgada recuou, com o índice ficando abaixo, inclusive, do que previa o mercado financeiro. É uma boa notícia, principalmente considerando que o índice de preços caiu de 0,46% em maio para 0,21% em junho, mas é como se estar em um carro olhando pelo retrovisor. Essa queda da inflação é pontual e, já no próximo mês, deve refletir a escalada do dólar e o reajuste dos combustíveis. A perspectiva de aumento da inflação em julho e no acumulado de 12 meses não deve ser, no entanto, motivo para que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), decida por elevar a taxa básica de juros, hoje em 10,5%.
Economistas e investidores chegaram a projetar um aumento da taxa, mas, observando os detalhes do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado esta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se nota uma acomodação em núcleos considerados mais resilientes à política monetária. Embora a inflação do primeiro semestre seja de 2,48% e, no acumulado de 12 meses, ela chegue a 4,23%, se aproximando do teto da meta para 2024 de 4,5% — 3% com 1,5 ponto percentual de tolerância para mais ou para menos —, não há motivos para o aumento dos juros na próxima reunião do Copom, em 30 e 31 de julho.
A explicação para a inconveniência de se elevar as taxas de juros vem do próprio argumento usado pelo BC, que observa os núcleos da inflação e os reajustes de preços dos serviços. Em junho, a média dos núcleos inflacionários ficou em 0,22%, desacelerando em relação ao 0,39% registrado em maio. Em 12 meses, houve uma leve aceleração de 3,55% para 3,57%, mas dentro da margem. Já a inflação dos serviços ficou estável em 0,04%. Esse resultado foi fortemente impactado pela redução de 9,88% no valor das passagens aéreas. Mas não apenas os bilhetes aéreos. Desconsiderando-os, há uma queda de 0,31%, em maio, para 0,22%, em junho, na inflação dos serviços. Com isso, em 12 meses, os reajustes de preços dos serviços retomaram o processo de desaceleração, ficando em 4,57%.
O detalhamento da inflação mostra, de forma clara, que os preços estão sob controle, numa tendência que é favorecida pela própria estabilidade econômica. Sem ruídos de comunicação (leia-se declarações fortes do presidente Lula contra o presidente do BC) e com o próprio Banco Central mostrando unidade, o cenário de incertezas se dissipa, levando a uma acomodação do câmbio em um patamar mais baixo, reduzindo a pressão sobre os preços internos. Para os próximos meses, a perspectiva é positiva para a redução da inflação.
Não se quer que haja condescendência da autoridade monetária com os preços, mas também é preciso ponderar que não há necessidade de um arrocho maior para conter futuros reajustes. Mesmo a alta dos combustíveis tende a ser neutralizada pela valorização do real frente ao dólar, que pode se acentuar com a perspectiva de corte nas taxas de juros dos Estados Unidos a partir de setembro. O que se espera é que possa haver ambiente para que, antes do fim do ano, o Copom retome o corte de juros.
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