OPINIÃO

Um imortal

Gilberto Passos Gil Moreira anunciou que deve encerrar a rotina de shows em 2025. Ainda bem que um dos artistas mais icônicos da música popular brasileira não vai parar de compor e gravar

 Gilberto Gil
cantor
82 anos -  (crédito:  Divulgação)
Gilberto Gil cantor 82 anos - (crédito: Divulgação)

Gilberto Passos Gil Moreira anunciou, na última quinta-feira, que deve encerrar a rotina de shows em 2025. Antes, porém, cumpre uma longa e imperdível turnê pelo Brasil, pelos Estados Unidos e pela Europa. Ainda bem que um dos artistas mais icônicos da música popular brasileira não vai parar de compor e gravar.

Aos 82 anos de vida e seis décadas de carreira, o cantor e compositor baiano tem dado importantíssima contribuição à cultura do país com belas canções, textos brilhantes, pronunciamentos relevantes e posicionamento elogiável, enquanto cidadão e intelectual.

Pertencente à geração de ouro da MPB, aquela que surgiu em meio ao histórico Festival da Record em 1967, no qual, acompanhado pelos Mutantes, classificou-se em segundo lugar com Domingo no parque. Do mesmo evento participaram Caetano Veloso, Chico Buarque, Roberto Carlos, Sérgio Ricardo e Edu Lobo — o vencedor, com Ponteio.

No mesmo ano, Gil se juntou a Caetano Veloso, Tom Zé, Gal Costa, Rita Lee e Nara Leão na deflagração da Tropicália, movimento que, embora a música fosse a expressão principal, envolvia outras formas de criação, como teatro, cinema e artes plásticas, representadas por José Celso Martinez Correia, Glauber Rocha e Hélio Oiticica, respectivamente. Logo depois, passaria a amargar o exílio em Londres, imposto pela ditadura militar — de triste memória.

O início da trajetória artística de Gilberto Gil ocorreu três anos antes, quando, ao lado de Caetano Veloso, Tom Zé, Gal Costa, Maria Bethânia e do violonista barreirense Alcivando Luz, apresentou o espetáculo Nós por exemplo, na inauguração do Teatro Vila Velha, próximo ao Campo Grande, na região central de Salvador.

Detentor de vasta obra, registrada em 30 discos de estúdio e 20 gravados ao vivo, Gil emplacou incontáveis sucessos e canções que se tornaram clássicos. Como esquecer Andar com fé, A paz, Aquele abraço, Lamento sertanejo, Tempo Rei e Se eu quiser falar com Deus?

Igualmente, ficarão para sempre na lembrança do brasiliense os shows que ele fez aqui na cidade. Recordo-me, por exemplo, de Refazenda, em 1975, no ginásio de esportes do Colégio Marista, na 509 Sul; e do Kaya N' gandaya (cantando músicas de Bob Marley), no Camping Show (2003). Na época, ele ocupava o Ministério da Cultura, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lembro-me, também, do Gilbertos Samba, de 2014, com o qual celebrou João Gilberto, a quem sempre teve como referência musical.

Em 8 de abril de 2022, com pompa e circunstância, Gilberto Gil tomou posse na Academia Brasileira de Letras, sendo o primeiro artista ligado à música a tornar-se um imortal. Como era esperado, ao ser empossado, foi acolhido com admiração e respeito por seus pares. Nada mais que merecido para esse gigante da cultura brasileira ocupar a cadeira que tem como patrono Joaquim Manuel Macedo.

 

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postado em 09/07/2024 06:00
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