Estética

Visão do Correio: Beleza a qualquer preço

Não aprendemos a ser criteriosos nas nossas escolhas de procedimentos estéticos. Também não aprendemos a criar estratégias capazes de fiscalizar e punir, como se deve, os maus profissionais

Imagem mostra mulher fazendo procedimento estético na boca -  (crédito: Sam Moghadam Khamseh/Unsplash)
Imagem mostra mulher fazendo procedimento estético na boca - (crédito: Sam Moghadam Khamseh/Unsplash)

Nesta semana, o Brasil registrou mais uma morte decorrente do provável uso inadequado de uma substância conhecida pelos malefícios: o PMMA. Uma modelo e influencer de 33 anos morreu depois de se submeter a um procedimento para o aumento dos glúteos em que supostamente foi utilizado o polimetilmetacrilato. No dia seguinte à cirurgia, ela teria sentido os primeiros sintomas (febre) de que algo poderia ter dado errado. No quarto dia, foi internada e acabou morrendo na última terça-feira. Não é a primeira vez que a proprietária da clínica estética foi detida e será investigada, mas mais uma vítima se foi. 

O PMMA é um material sintético e somente pode ser usado em casos muito específicos, em pequenas porções e nunca implantado por pessoas não qualificadas. A substância é tão perigosa que, para ser utilizada em preenchimentos subcutâneos, precisa de registro na Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). Além disso, é considerado um produto de uso em saúde de máximo risco (classe IV) e só pode ser administrado após treinamento, já que o profissional precisa saber determinar doses, número de injeções, áreas do corpo e características do paciente. 

No entanto, a história se repete, e, cada vez mais, em menor espaço de tempo. Vide a morte, há menos de um mês, de um homem por uso de polifenol, também utilizado por profissional não capacitado para tal. Somente em 2023, no Brasil, foram feitos mais de 2 milhões de procedimentos estéticos, calcula a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS), ocupamos o segundo lugar do mundo no ranking internacional de cirurgias plásticas, perdendo apenas para os Estados Unidos. 

Mas não aprendemos a ser criteriosos nas nossas escolhas. Também não aprendemos a criar estratégias capazes de fiscalizar e punir, como se deve, os maus profissionais. Não há fiscalização, portanto, há impunidade. A verdade é que o imediatismo e as promessas mirabolantes de beleza, aliados à busca pelo corpo perfeito ou a uma espécie de tentativa de autoaceitação frente ao espelho, têm transformado a cirurgia plástica com fins estéticos em algo imprescindível na vida de todas as pessoas.  

A boa notícia é que uma onda "natural" está começando a se formar, ainda que os números de procedimentos estéticos tendam a crescer exponencialmente nos próximos anos. Muitas mulheres que implantaram silicone nos seios, por exemplo, estão retirando o volume, e mesmo aqueles que se submetem a alguma cirurgia estão exigindo resultados mais discretos, contornos mais suaves e proporcionais ao próprio corpo.

Quem sabe, assim, possamos noticiar o sucesso deste ou daquele procedimento estético a que uma celebridade se submeteu  tamanha a naturalidade, em vez de mortes, deformações e embates nos quais profissionais e pacientes são postos frente a frente em processos judiciais que duram anos, quase sempre sem final feliz.

 

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 05/07/2024 06:00
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação