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Visão do Correio: As falas de Lula e os especuladores

Não há nenhum fundamento que justifique o valor do dólar, que, ontem, fechou cotado a R$ 5,66, acumulando valorização de 1,37% no mês e de 16,75% no ano

Notas de dólar e real  -  (crédito: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)
Notas de dólar e real - (crédito: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou ontem preocupação com a escalada do dólar frente ao real. Mas, mais do que preocupação, sinalizou que pedirá uma reunião de governo para adotar medidas para conter o que classifica de ataque especulativo contra o real. De fato, a moeda brasileira tem se desvalorizado muito em função de movimentos especulativos dos investidores, mas também pelas altas taxas de juros nos Estados Unidos e pelas incertezas em relação à economia norte-americana e pelos embates do presidente com o Banco Central. Lula, sozinho, não tem capacidade para alterar o câmbio, mas as suas falas são tudo o que os especuladores querem para justificar a escalada do dólar.

O presidente tem todo direito de expressar suas opiniões e diretrizes do seu governo, mas precisa considerar a conveniência de suas declarações — muitas vezes orientadas para a política e para marcar posição para seus candidatos nas eleições municipais. Lula trata questões econômicas como se estivesse em um palanque e o adversário fosse o presidente do Banco Central ou os investidores, uma atitude que é extremamente danosa para a economia brasileira. Não há nenhum fundamento que justifique o valor do dólar, que ontem fechou cotado a R$ 5,66, acumulando valorização de 1,37% no mês e de 16,75% no ano.

A cotação do moeda norte-americana está fora da realidade, considerando a conjuntura econômica do país, mas não há um limite para que se valorize frente ao real, e o que se espera é que, como disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se elimine os ruídos de comunicação gerados pelo próprio governo, que, segundo ele, comunica mal os seus feitos na área econômica. Em relação ao limite para a alta do dólar, é preciso lembrar que, em setembro de 2022, nas vésperas da primeira eleição vitoriosa de Lula, a moeda atingiu valor recorde, corrigido pela inflação, de R$ 8,76. Hoje, o dólar, que começou o ano abaixo de R$ 5, está na maior cotação desde janeiro de 2022.

Esse cenário de incertezas nos Estados Unidos pressiona as moedas de todo o mundo, não apenas no Brasil. Moedas da Colômbia, da Argentina, do Chile e do México estão pressionadas e perdendo valor frente ao dólar, mas num patamar não tão intenso quanto no Brasil. Com as taxas de juros elevadas nos EUA e as taxas de longo prazo, que não são controladas pelo Banco Central, subindo sistematicamente, dólares de todas as partes do mundo migram para a América, e os mercados em que há menos divisa norte-americana sofrem desvalorização das suas moedas. Ocorre, praticamente, em todas as economias periféricas, num processo que se torna mais intenso no Brasil, com o presidente municiando os especuladores.

Nesse contexto, a primeira medida efetiva para conter o ataque especulativo é cessar as falas que alimentam e servem de justificativa para os especuladores. O resultado desse movimento será exatamente a elevação das taxas de juros para evitar, de um lado, que o dólar caro e a demanda aquecida elevem a inflação, num cenário que há seis meses seria improvável, e, de outro, conter a própria cotação da moeda dos Estados Unidos. O dólar elevado encarece todos os produtos importados, como diesel e trigo, cujo aumento vai parar direto no bolso do brasileiro. O presidente Lula tem que ser alertado de que o efeito das suas falas pode ser exatamente o contrário do que ele diz almejar.

 

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postado em 03/07/2024 06:00
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