Ferido e ensanguentado, o palestino foi amarrado ao capô de um jipe militar de Israel. O carro desfilou pelas ruas de Wadi Burqin, uma área próxima à cidade de Jenin, na Cisjordânia. O suposto atirador teve o socorro médico negligenciado e foi forçado a se transformar em escudo humano. O vídeo com o flagrante viralizou nas redes sociais, choca, perturba, incomoda e revoltou até mesmo os Estados Unidos, aliados históricos — e talvez não mais incondicionais — do país judeu. Enquanto isso, os bombardeios incessantes, as mortes de civis e a destruição na Faixa de Gaza prosseguiam, com a imposição do horror, do medo e da fome a cerca de 2 milhões de palestinos acuados, sem terem para onde ir e confinados em uma prisão a céu aberto.
Violações sistemáticas dos direitos humanos, crimes contra a humanidade e crimes de guerra somente trarão, ao longo do tempo, dor, vingança e ódio descomunal. A guerra de Benjamin Netanyahu contra o movimento terrorista Hamas é irracional, burra e contraproducente. Em vez de destruir o grupo, tudo o que Israel tem feito foi sublinhar a própria existência do Hamas, na medida em que órfãos palestinos não pensarão duas vezes em se alistar nas fileiras da facção para retaliar a campanha sangrenta de Netanyahu.
À medida que a guerra se arrasta, o chefe de governo é empurrado para a própria armadilha. Nos últimos dias, o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), Daniel Hagari, e o conselheiro de Segurança Nacional, Tzachi Hagnebi, chegaram a uma conclusão óbvia: o Hamas é uma ideia, e ideologias não podem ser destruídas. Ainda que também seja um grupo que arregimenta milhares de palestinos para cometerem atentados e massacres abjetos, como o de 7 de outubro.
Talvez Netanyahu não perceba que seu governo está acabado. Depois de fracassar miseravelmente ao não evitar a matança no sul de Israel, ele ignorou os códigos de ética e conduta em uma guerra e se afundou em um conflito sem vencedores. Nesta terça-feira, uma decisão da Suprema Corte de Israel sobre o recrutamento de judeus ultraortodoxos pode ampliar a pressão sobre a coalizão do governo — formada por ultraconservadores e religiosos. Nesse caso, Netanyahu estaria sozinho, perderia o comando de Israel e seria obrigado a prestar contas à Justiça. Passou da hora de todos os esforços da comunidade internacional serem envidados na direção da criação do Estado palestino. A Armênia acaba de se somar a outros Estados no reconhecimento do direito de os palestinos terem sua terra soberana. Somente isso pode pôr fim ao conflito e plantar uma semente de paz em uma região tão castigada pelo ódio.
Saiba Mais