Visão do Correio

Visão do Correio: Ser pesquisador é uma árdua opção

Condições, mesmo com o recente reajuste autorizado pelo governo federal, são desanimadoras para quem pretende fazer uma carreira nesse campo no Brasil

Ser pesquisador no Brasil, para muitos, significa abrir mão de benefícios trabalhistas e previdenciários. A legislação garante, em lugar de salários, bolsas e permissão ao cientista de ter outras fontes de renda. Essas condições, mesmo com o recente reajuste autorizado pelo governo federal, são desanimadoras para quem pretende fazer uma carreira na pesquisa, como mostrou a reportagem Vida de pesquisador longe do ideal (Correio Braziliense, 23/6). Em alguns casos, os mais persistentes podem se vítimas do fenômeno "burnout acadêmico", com sintomas de depressão e ansiedade decorrentes de estresse prolongado.

Na compreensão do cientista William Kaelin, Nobel de Medicina (2019), "a grande transformação e as descobertas, muitas vezes, vêm de observações inesperadas e de cientistas talentosos que recebem a liberdade e os recursos para seguirem a própria curiosidade".  Se o sistema não permite essas ações, no entendimento do Kaelin, seria o mesmo que "colocar vendas nos jovens cientistas e dizer que eles só serão financiados se estiverem fazendo algo que já está muito próximo de ser aplicado",  afirmou em entrevista ao Correio, em setembro do ano passado.

A competência dos pesquisadores brasileiros foi demonstrada durante a pandemia de covid-19. Eles participaram ativamente dos estudos e testes que levaram à descoberta da vacina contra o vírus Sars-Cov-2. Tanto no Brasil quanto em outras nações, o tempo recorde de formulação do imunizante suscitou dúvidas quanto à eficácia do medicamento. 

As normas brasileiras dificultam a execução de trabalhos dessa magnitude. Em alguns casos, o pesquisador fica dividido entre o estudo e o emprego formal, para suprir suas necessidades financeiras. Se esse aspecto não é o ponto frágil, há barreiras pela dificuldade de obtenção de insumos e equipamentos essenciais à conclusão do projeto.

Entre as opções, está a de migrar para outro país que ofereça condições adequadas às pesquisas pretendidas. Um estudo da Universidade de Campinas constatou que há um grande contingente de cientistas nacionais disperso por 42 países, com concentração mais acentuada em Estados Unidos, Canadá,  Alemanha, Reino Unido, Portugal, França e Espanha. Hoje, entre os 100 mil cientistas mais influentes do mundo, 1.294 são brasileiros, atuando dentro e fora do país. Trinta e um, por exemplo, são da Universidade de Brasília (UnB), segundo o ranking da Universidade Stanford (EUA), em parceria com a Elsevier, a maior editora científica do mundo.

Inovação, tecnologia, ciência, assim como melhorias em todas as etapas da educação, são bases essenciais ao desenvolvimento do Brasil, o que inclui remuneração justa aos profissionais. Mas não só isso: também é fundamental políticas públicas que garantam investimentos adequados nas instalações e nos insumos das unidades de ensino desde o ensino básico até o universitário, em todo país.

 

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