OPINIÃO

Artigo: Problemas reais

Há problemas sérios que aguardam ação enérgica do governo, como a necessidade de dragar o porto de Belém para receber os participantes da COP 30

» André Gustavo Stumpf, Jornalista.

Entre administrar o governo e criticar o Banco Central, o presidente Lula tem preferido a segunda opção. Trata-se de bode expiatório de grande impacto, que impressiona os incautos. Não muda a realidade. Nem produz resultados concretos, além de aumentar o dólar. Agita a militância que tenta criar narrativas que favoreçam o chefe do governo. A inflação continua baixa por obra deste mesmo Banco Central, que se recusou a reduzir a taxa Selic (10,5%) — com votos de diretores lá colocados pelo atual presidente — por causa das derrapadas da política econômica. Mandar medida provisória para o Congresso aumentando impostos sem antes negociar é ação ingênua e inócua. Resulta em desgaste. Apenas irrita parlamentares e os interessados no assunto.

Além dos múltiplos problemas causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul, há problemas sérios que aguardam ação enérgica do governo. Assunto urgente é, segundo estimativas oficiais, que a cidade de Belém do Pará não dispõe de acomodações suficientes em hotéis para receber os delegados da COP 30 que deverão afluir para o encontro. A solução encontrada pelos organizadores é alugar três navios de cruzeiro, de grandes proporções, para ficarem atracados no porto durante o evento. O porto de Belém, que eles chamam de Docas, foi revitalizado para receber restaurantes e bares. É um local de grande afluência de público. Um hotel de bandeira portuguesa planeja se instalar na área.

Há um problema sério que pode inviabilizar o planejamento. É necessário dragar o porto de Belém para aprofundar o calado e permitir que os grandes navios encostem sem problemas. Se um navio daquele tamanho encalhar, será encrenca muito séria. Não há empresa brasileira capaz de realizar o trabalho. Haverá uma concorrência internacional para escolher a empresa ou as empresas que deverão realizar a tarefa. Mas existe pressa. Tudo tem que estar pronto e funcionando em novembro de 2025. Prazo curtíssimo até mesmo para alugar os navios que são todos de empresas estrangeiras. Se não houver acomodações para os delegados internacionais, será um vexame de proporções mundiais.

Esse é um problema objetivo. Outro foi provocado pelo amigo do presidente, o benefactor da Venezuela, Nicolás Maduro. Ele declarou que o território de Essequibo é parte de seu país. Publicou, oficialmente, novo mapa da Venezuela que inclui a metade da Guiana como território nacional. Além disso, ameaçou uma guerra de conquista contra os pobres guineenses que, agora, começam a desfrutar do dinheiro do petróleo. Tudo se passa na fronteira do Brasil tanto com um quanto com outro. São poucas estradas na região. Qualquer ataque terá consequências no território nacional. As forças armadas de Maduro dispõem dos modernos Sukhoi SU30, russos, e dos F-16, norte-americanos. A Força Aérea Brasileira utiliza velhos caças F-5, que são da década de 70, e aviões de ataque ao solo AMX, produzidos pela Embraer em consórcio com fabricante italiano. Os F-5 foram modernizados, mas não têm qualquer possibilidade de sucesso no confronto com os aviões de guerra do vizinho. Os AMX são antigos e obsoletos. Por essas razões, a FAB está cogitando comprar aviões F-16 para melhorar a defesa nacional. Os Gripen, comprados na Suécia, e parte deles montados no Brasil, chegam em conta-gotas. Dos 36 aviões comprados, apenas sete estão no país, e ainda em fase de testes.

O esforço para transferir as tropas da 1ª Brigada de Infantaria da Selva para a região de possível conflito realizado por terra, e com ajuda de barcaças, demorou meses. E com elevado custo. Em decisão recente, a força terrestre decidiu também levar parte de seus blindados sobre rodas para Roraima, exatamente para reforçar a defesa na fronteira. A logística na região é difícil e cara, agravada pela falta de material e equipamentos. A Marinha brasileira utiliza aviões A-4, veteranos da guerra do Vietnã. E a corveta Caboclo, que faz a vigilância na costa norte do Brasil, tem 70 anos de uso. É uma embarcação antiga e com escassos recursos para serem utilizados na guerra moderna.

Duas outras notícias preocupantes. As principais organizações criminosas que agem no Brasil desembarcaram no Amapá. Lá, o índice de mortes é o mais alto do país por causa da fuzilaria entre esses grupos. O motivo é simples. O porto de Santana, naquele estado, é menos fiscalizado do que os de Santos e do Rio de Janeiro. A droga vem pelo Rio Amazonas e, naquele ponto, é distribuída para receptadores na Europa e na África. É mais próximo do destino da droga. Outra notícia relevante. O governo argentino anunciou a possibilidade de instalação de uma base militar norte-americana no país. Esse detalhe tem o poder de trazer para o Atlântico Sul parte das crises políticas internacionais. O novo cenário vai exigir mais da Marinha brasileira.

 

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