Artigo

Homenagem ao bom jornalismo

Além de seus exemplos e de sua vida regrada por ações e atitudes de bem-querência, com os amigos, com a cidade, com a família e com seus leitores, aprendi muito com Ana Dubeux por suas crônicas, reportagens e Carta ao Leitor

"Me dê flores em vida, o carinho e a mão amiga para aliviar os meus ais..."

(Nelson do Cavaquinho)

Quando o final da tarde cai sobre Brasília, a redação do Correio Braziliense entra em transe. Fervilha até a meia-noite para o fechamento da edição do dia seguinte. Ao cair da noite, Ana Dubeux é a Estrela d'Alva da imprensa de Brasília. Na Alvorada, Ana Dubeux é a Estrela Matutina de Brasília.

Tal como a Estrela d'Alva ou a Estrela Matutina, Ana Dubeux é mais do que uma estrela: é planeta. É Vênus! É real. Desde 21 de abril de 1960, Brasília só amanhece quando o Sol ilumina a primeira página do Correio Braziliense.

Nos seus 41 anos de jornalismo, Ana Dubeux brilhou em muitas redações. Desde 1983, ela vem escrevendo sua biografia. Iluminou seus leitores pernambucanos no jornal Diga, Olinda, no Tablóide Esportivo e no centenário Jornal do Commercio, do Recife. Já em Brasília, desde 15 de dezembro de 1987, ela alumbra os brasilienses trabalhando no Correio do Brasil e no Jornal de Brasília.

Sua primeira passagem pelo Correio Braziliense foi de dezembro de 1987 a 1990. Depois, a partir de dezembro de 1997, Ana Dubeux se tornou com exclusividade a Estrela d'Alva e a Estrela Matutina do maior e mais importante jornal do Distrito Federal. Por isso, o título de Cidadã Honorária de Brasília, que ela recebeu nesta quarta-feira, dia 19, da Câmara Legislativa do Distrito Federal, iniciativa da deputada Paula Belmonte, foi uma homenagem justa, oportuna e relevante. 

Para o ex-presidente José Sarney, em mensagem especial enviada de São Luís do Maranhão, "Ana Dubeux é uma das maiores jornalistas do Brasil, com suas qualidades morais e intelectuais  — inteligência, cultura e isenção, correção e independência". E acrescenta: "Dubeux é dona de um estilo notável, claro, brilhante e objetivo, o que lhe assegura o respeito e a admiração de que goza dos setores jornalísticos e intelectuais do país".

Além de seus exemplos e de sua vida regrada por ações e atitudes de bem-querência, com os amigos, com a cidade, com a família e com seus leitores, aprendi muito com Ana Dubeux por suas crônicas, reportagens e Carta ao Leitor — espaço que ocupa nas edições domingueiras do jornal. Aprendi que:

— Amizade real não acaba por bobagem, nem por distância, nem pela morte. Ela restaura o amor, a vida e a leveza.

— Dar valor a quem importa. Rever quem ama, olho no olho, aliviar a mente e dividir os aperreios com um amigo é um conforto grande. O dia acaba mais leve, sem metade do peso e da angústia.

— Redação de jornal é um fazer constante e ininterrupto, que por vezes coloca o jornalista em modo de trabalho permanente. Automatizado. Mas a sala do jornalista é a rua.

— Vi gente graúda cair, gente simples chegar ao topo, vi amigos governarem, errarem e acertarem no poder. Hoje, preservo as imagens do caminho. Nada é tão grandioso que possa abater um voo digno, nem tão poderoso que seja capaz de colocar uma bela amizade, em jogo e em risco.

— Ao envelhecer, quem são as pessoas que te inspiram? No corre-corre de sempre, sabe o que te leva pela mão para ser saudável com o passar do tempo? Eu sei: o exemplo. Escolho pessoas com histórias, com humor, animadas pela arte, pela alegria de continuar pertencendo aos palcos que elegeram para brilhar nesta existência.

— A honra nunca foi ou nunca deveria ter sido um privilégio masculino. Ainda assim, por décadas, as mulheres foram condenadas por supostamente ferir a honra de sujeitos que agridem e matam. Muitas delas condenadas à morte, sem direito à defesa. 

— No Caminho de Compostela, aprendi a só levar o necessário. Aquilo que cabe na mochila. Entendemos, então, que precisamos de muito pouco para seguir em frente. Uma metáfora intrigante da vida, não é?".

Ainda sobre o Caminho de Compostela:

— Deixar fantasmas e pesos desnecessários em algum lugar dessa travessia já me basta. Na maioria das vezes, não é preciso completar os sonhos. Só é preciso seguir na intenção de realizá-los, como aprendi com dona Wandinha, minha mãe, de quem herdei o gosto irreprimível por liberdade.

— Eu reaprendi a andar com amigos políticos e amigos chefes. Com os políticos descobri que uma eleição é como uma caminhada que testa seu corpo físico e mente, às vezes cansada. Exige fôlego, confiança e determinação — sobretudo, ética. 

A deputada Paula Belmonte, com seu acurado discernimento político e com sua sensibilidade feminina, foi muito feliz na iniciativa de conceder o título de Cidadã Honorária de Brasília à jornalista. Se Brasília já estava no coração de Ana Dubeux desde 15 de agosto de 1987, há 37 anos, a partir deste 19 de junho de 2024, Ana Dubeux passa a ocupar, oficialmente e integralmente, também o coração de Brasília.

 

Mais Lidas