Taxas de juros altas sufocam a economia, forçando a redução do consumo e inibindo os investimentos. Pesam ainda sobre as contas públicas, praticamente fazendo com que a dívida pública cresça, uma vez que o prêmio que o governo paga para rolar seus títulos é maior do que a margem de aumento da arrecadação. Com a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 3,93% em 12 meses e as projeções do mercado financeiro indicando que a taxa feche o ano em 3,9%, não seria surpresa se o Comitê de Política Monetária (Copom) fizesse, hoje, um novo corte de 0,25 ponto percentual, até para confirmar sua autonomia em relação ao governo e ao mercado financeiro, que aposta na manutenção da taxa em 10,5%.
Aqui não se fala de frustrar expectativa ou gerar desconfiança, mas, sim, de sinalizar que, para além da expectativa de bancos e instituições financeiras, o Banco Central (BC) está atento à atividade econômica, que, pelo seu próprio indicador, o IBC-Br, ficou estagnada em abril. A dose errada do remédio pode agravar a doença. Ao manter a taxa de juros elevada, o BC pressiona o custo da dívida, elevando o endividamento público, que gera desconfiança, valoriza o dólar e pressiona a inflação — justificativa para manter os juros elevados em um ciclo vicioso que alimenta ganhos no mercado financeiro.
Em um ambiente como esse, seria prudente que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, em nome da autonomia do banco, se limitasse a conduzir a política monetária sem dar declarações que fomentem essa ou aquela interpretação por parte do mercado ou mesmo participar de reuniões e eventos com notório cunho político. Não se quer censurar ou amordaçar as ações do presidente do BC, mas simplesmente cobrar bom senso no momento em que todos devem se unir por um equacionamento sustentável das condições para o crescimento econômico.
Quando defende taxas de juros menores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não está indo contra o mercado financeiro nem dizendo que deseja o descontrole das contas públicas, mas, sim, defendendo empresários que precisam tomar crédito para investir. Juros altos aumentam a renda de quem tem dinheiro aplicado em títulos e o custo para quem está endividado ou precisa recorrer a financiamento. E, como presidente, Lula pode fazer tais declarações, ainda que o mercado financeiro não goste e, constantemente, as use para justificar momentos puramente especulativos.
Por outro lado, o governo e o próprio presidente Lula devem mostrar empenho em equacionar o deficit público, num trabalho que envolve o Congresso e o Judiciário, para que a busca por um equilíbrio fiscal seja de todos, não pesando apenas sobre o governo federal enquanto os outros Poderes criam despesas fora da previsão orçamentária. Prorrogação de benefícios criados para situações emergenciais são uma rotina no Brasil e fazem parte do bolo de R$ 625 bilhões de isenções fiscais.
Não se questiona a necessidade de o governo ser indutor do desenvolvimento da economia, mas é preciso verificar o ganho efetivo desses benefícios que, no passado, em alguns casos, serviram apenas para recompor margem de lucro de filiais de corporações internacionais no Brasil. O que também se espera é que o governo mensure a eficiência dos seus gastos para encontrar espaço para cortar, mostrando, assim, empenho em buscar o equilíbrio fiscal. Disputas políticas em áreas econômicas são tão ruins para a economia quanto juros altos.