Eles são sonho de consumo no Brasileirão. Estão fora de moda no Big Five, as cinco principais ligas nacionais da Europa. Países periféricos do Velho Continente e do Oriente Médio pagam caro para tê-los. Portugal faz reserva de mercado e renova o estoque. É no mínimo curiosa — e contraditória — a lei da oferta e da procura por técnicos lusitanos na indústria do futebol.
Dos 20 clubes da Série A, seis empregam treinadores nascidos na terra de Camões. Mais de um quarto da elite. O atual bicampeão Abel Ferreira comanda o Palmeiras. António Oliveira é o dono da prancheta do Corinthians. Arthur Jorge lidera o Botafogo. Pedro Caixinha escala o Red Bull Bragantino. O Cuiabá importou Amando Gonçalves Teixeira, o Petit. O Vasco buscou Álvaro Pacheco no Vitória Guimarães.
Jorge Jesus escancarou a fronteira do Brasil ao conquistar seis taças na passagem pelo Flamengo. Fez a beleza do jogo rubro-negro ser admirada até por arquirrivais ao empilhar a Libertadores, o Campeonato Brasileiro, a Supercopa do Brasil, a Recopa Sul-Americana, a Taça Guanabara e o Campeonato Carioca.
Abel Ferreira veio na sequência e fincou a bandeira portuguesa na Academia de Futebol. Brindou o clube paulista com 10 troféus em 13 meses: três Paulistões, duas Libertadores, duas edições do Brasileirão, uma Copa do Brasil, uma Recopa Sul-Americana e uma Supercopa do Brasil.
Na contramão do Brasil, o marketing agressivo da escola portuguesa de técnicos é apreciado com moderação nas cinco principais ligas nacionais da Europa. Hoje, o cenário é o seguinte: dos 98 clubes da primeira divisão da Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália, apenas três são liderados por treinadores portugueses.
Nenhum deles tem crachá de potência pendurada no pescoço. Marco Silva (Fulham) e Nuno Espírito Santo (Nottingham Forest) militam na Premier League.
Paulo Fonseca assume um Milan apequenado. Na França, especula-se a contratação de Sergio Conceição, ex-Porto, pelo Olympique de Marselha. Vizinha de Portugal, LaLiga não tem portugueses no Espanhol. Muito menos a Bundesliga.
Os treinadores mais badalados de Portugal militam fora do Big Five. Bicampeão da Champions League pelo Porto e a Internazionale, José Mourinho teve apresentação apoteótica no Fenerbahçe da Turquia. Jorge Jesus colocou o Al-HIlal da Arábia Saudita no Guinness, o Livro dos Recordes, depois da sequência de 28 vitórias consecutivas na Saudi Pro League. Na Eurocopa, nem o técnico de Portugal é patrício. O espanhol Roberto Martínez dá as cartas em uma das seleções favoritas ao título.
Internamente, a fábrica lusitana segue produzindo técnicos em série. Em vez de buscar um Tite no Brasil, por exemplo, o Porto promoveu Vitor Bruno, ex-auxiliar de Sergio Conceição. Dos 18 times da elite, apenas dois empregam estrangeiros: o alemão Roger Schmidt no Benfica, e o uruguaio Gonzalo Garcia no Arouca. A ordem por lá é colocar mais produtos na vitrine e importá-los a um cliente preferencial: o Brasileirão.