Artigo

Pela democracia, sempre

Há 35 anos, em 4 de junho, estudantes e ativistas foram atropelados por tanques de guerra do Exército de Libertação Popular chinês e assassinados, por reivindicarem uma abertur política

Democracia. Não existe valor maior para uma sociedade que julgue ter pluralidade de ideias e que trabalhe em prol do bem comum. Sem a democracia, estamos à mercê do autoritarismo, do desmando, das violações dos direitos humanos, da tirania. Escrevo este artigo em 4 de junho, no 35º aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial. Naquele dia, em 1989, estudantes e ativistas foram atropelados por tanques de guerra do Exército de Libertação Popular chinês e assassinados, apenas por reivindicarem uma abertura política. Mais de 10 mil morreram, segundo documentos divulgados pelo governo do Reino Unido. O assunto tornou-se tabu na China. Estive em Pequim, sete anos atrás, e visitei a Praça da Paz Celestial. Pude imaginar os blindados investindo contra a multidão, sedenta de democracia.  Hoje, há quem diga que as inúmeras câmeras espalhadas pelo coração da capital chinesa sirvam mais ao controle social do que à segurança.  

É verdade que a democracia pressupõe liberdade de expressão e de associação. Também a possibilidade de sair às ruas e de exigir que o governo honre sua eleição e trabalhe em prol da população. Mas a democracia não deve legitimar fake news. Disseminar mentiras a torto e a direito é imoral e antiético, ainda que o nosso Congresso — vergonhosamente — não veja isso como crime. Inverdades espalhadas pelas redes sociais têm o poder de manipular a opinião pública, interferir no resultado das eleições, destruir a reputação alheia e, em casos extremos, até mesmo matar.  É uma vergonha que o Congresso Nacional tenha mantido o veto de Jair Bolsonaro à criminalização das fake news. Legalizar o ilegal, legitimar o ilegítimo, apenas para que determinada ala política tire proveito do caos. 

Em exatamente cinco meses, os Estados Unidos realizarão uma das eleições mais importantes — e tensas — da história. Imaginar o retorno à Casa Branca de um ex-presidente responsável por violentar a democracia, ao fomentar a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021; "encalacrado" de indiciamentos na Justiça; e descomprometido com a verdade chega a ser bizarro. Ainda mais em uma nação que se gaba de ser uma espécie de farol da democracia. A eventual recondução de Donald Trump ao poder é um atestado do fracasso moral da sociedade norte-americana e da ascensão da extrema-direita. É uma faca no pescoço das instituições do Estado. Quem pode garantir que uma horda de trumpistas não repetirá o ataque ao Congresso? 

É dever de todos preservar a democracia, desprezar as fake news, valorizar o papel do jornalismo como fonte de informação e fiscalizador do poder público. Sobretudo, saber votar e escolher representantes comprometidos com a população — não com o próprio ego, com a sanha de poder ou com valores ultraconservadores e preconceituosos. É dever de todos combater o discurso de ódio, a polarização política desgovernada, a retórica agressiva e irresponsável. Somente com democracia é possível construir  um futuro de paz e de harmonia. 


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