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Visão do Correio: Ninguém está acima da lei nos EUA

Em uma eleição apertada, em que a democracia norte-americana é mais segura nas mãos de Biden do que nas de Trump, uma queda provocada pela condenação pode fazer a diferença e decidir a eleição

A condenação criminal de Donald Trump pela Justiça novaiorquina não afasta o ex-presidente da disputa contra Joe Biden, cuja reeleição à Presidência dos Estados Unidos nem de longe está garantida. Mas é um fato muito relevante na política norte-americana e mundial. Mostra que ninguém está acima da lei nos Estados Unidos, como, aliás, disse Biden, ao comentar as acusações feitas por Trump de que o julgamento teria sido manipulado para beneficiá-lo.

Trump é o primeiro ex-presidente dos EUA a ser considerado culpado por um crime e condenado. A sentença final ainda não foi proferida pelo juiz encarregado do caso, mas pode, inclusive, levar o ex-presidente para atrás das grades, apesar de ser réu primário e ter mais de 70 anos, em razão da aplicação de leis estaduais e federais sobre fraude e financiamento de campanha.

A principal causa da condenação foi o pagamento secreto à ex-atriz pornô Stormy Daniel, antes das eleições presidenciais de 2016, para que não revelasse o caso que mantiveram, num rol de mais de 30 acusações. Trump deve recorrer da decisão, mas o assunto já esquenta o debate eleitoral norte-americano, que pode ter um candidato em uma situação inédita: fazer a campanha de dentro da cadeia.

Não existe nada parecido na história dos Estados Unidos. Trump ainda pode ser impedido de disputar a eleição se for comprovado seu envolvimento direto na tentativa de impedir a posse de Biden por ocasião da invasão do Capitólio. Ambos estão empatados nas pesquisas, mas pode ser que a decisão do tribunal de júri de Nova York mude a opinião de muitos eleitores.

Como sempre, o ex-presidente se diz vítima de perseguição. E tenta sensibilizar o eleitorado em torno disso. Nas primárias republicanas, porém, um percentual de eleitores na casa dos dois dígitos disse que não votaria no ex-presidente se ele fosse condenado por um crime.

Foi o caso dos eleitores republicanos de Carolina do Norte: 32% pensam que Trump não estaria apto à Presidência se fosse condenado. Em abril, pesquisas da Ipson e da ABC News também mostraram que 16% dos que apoiam Trump reconsiderariam o seu voto em tal situação.

Outros três processos criminais contra Trump, envolvendo as suas tentativas de anular as eleições presidenciais de 2020 e o tratamento de documentos confidenciais após deixar a Casa Branca, ainda estão em andamento. Entretanto, não há prazo para os julgamentos.

Por ora, Trump se beneficia do fato de que a maioria dos eleitores norte-americanos tem outras preocupações. E são temas que desgastam a imagem do presidente Biden: a inflação, a situação das fronteiras, a concorrência da China, o conflito com o presidente russo Vladimir Putin, as guerras da Ucrânia e de Gaza.

Entretanto, numa eleição apertada, em que a democracia norte-americana é mais segura nas mãos de Biden do que nas de Trump, uma queda provocada pela condenação pode fazer a diferença e decidir a eleição. 

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