Realizado cinco meses antes da eleição, o debate entre os dois pré-candidatos à presidência dos Estados Unidos — os partidos Republicano e Democrata ainda não oficializaram Donald Trump e Joe Biden como os indicados para a corrida à Casa Branca — revelou duas visões antagônicas sobre democracia. Como de hábito, Trump manteve a postura niilista, negando fatos e acusações de maneira peremptória e histriônica. Minimizou a emergência climática, opôs-se ao que considera dispendiosa ajuda à Ucrânia da invasão russa, satanizou imigrantes, desqualificou o juiz de Nova York que o condenou por fraude bancária.
Ao direcionar sua munição contra o adversário democrata, Trump manteve o estilo agressivo. Tachou o governo Biden de "pior da história dos EUA", responsabilizou-o pela inflação duradoura, acusou-o de frouxidão na guerra da Ucrânia. E, com a ironia típica, colocou em dúvida a concatenação de ideias do chefe da Casa Branca, vocalizando a preocupação cada vez maior sobre as condições de Biden para concorrer à eleição.
O atual titular da Casa Branca, por sua vez, também manteve um tom altivo. Chamou Trump de condenado pela Justiça, acusou de entregar uma administração federal caótica, valorizou os avanços nos serviços de saúde norte-americanos e justificou as ações de seu governo na guerra, com apoio das Nações Unidas e do G7, o grupo das sete maiores economias. E disse que o rival republicano incitou o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
A percepção generalizada do primeiro embate entre os presidenciáveis é de que Trump saiu vitorioso do confronto com Biden. E que a candidatura de Biden enfrenta sério perigo de fracasso. Ainda durante o debate, os democratas já discutiam a possibilidade, cada vez mais evocada, de o atual presidente abrir mão da reeleição. Enquanto isso, a Casa Branca informava, em um comunicado sintomático, que o presidente estava se recuperando de uma gripe, por isso, a voz estava frágil durante o debate.
O desempenho frustrante de Biden não representou apenas um malogro para os democratas. Despertou, para muitos nos Estados Unidos — e no mundo —, uma preocupação com o retorno de Donald Trump ao comando da maior potência econômica e militar do planeta. O republicano é sinônimo de tensionamento dentro e fora da América, com implicações nas relações internacionais, na economia global e na geopolítica.
Mais do que escolher entre um republicano e um democrata para o cargo político mais importante do mundo, os norte-americanos terão de decidir entre dois caminhos para a mais relevante das democracias modernas. Uma vitória de Trump necessariamente redundará em novo estresse político e institucional em escala global, posto que o republicano não demonstra muito apreço pelo establishment, dando mais peso às suas convicções, consideradas populistas por muitos. Biden, por sua vez, tem o ônus de ser governo, e governos são frequentemente criticados por não responderem às demandas da sociedade com a devida rapidez. O democrata, porém, nunca deixou dúvida de que respeita o Estado Democrático de Direito e a Constituição dos Estados Unidos — compromisso não tão evidente na postura de Donald Trump. Na quinta-feira, após três tentativas dos debatedores, o republicano disse que respeitaria o resultado das eleições, contanto que fossem "justas" e "legais". Eis as condições do candidato que assusta multidões.
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