Visão do Correio

Epidemia de obesidade

Mantidas as tendências atuais, 130 milhões de adultos brasileiros viverão com sobrepeso ou obesidade (75%), sendo 83 milhões com obesidade e 47 milhões com sobrepeso

Paciente obeso verifica redução de massa corpórea na balança -  (crédito: Dennis Sylvester Hurd/Divulgação )
Paciente obeso verifica redução de massa corpórea na balança - (crédito: Dennis Sylvester Hurd/Divulgação )

Um tema muito complexo está sendo amplamente debatido nesta semana, em São Paulo: a obesidade. O congresso internacional reúne, até amanhã, autoridades e especialistas, entre os quais endocrinologistas, clínicos, oncologistas, angiologistas, enfim, toda a comunidade médica em torno do assunto. Os dados continuam alarmantes: quase metade dos adultos brasileiros viverão com obesidade em 20 anos; três quartos dos adultos brasileiros terão obesidade ou sobrepeso em 2044; obesidade em meninos e meninas de todas as idades no Brasil deve aumentar significativamente nos próximos 20 anos; e taxas de obesidade, obesidade severa e sobrepeso estão varrendo todas as áreas do Brasil e atingirão níveis recordes até 2030. 

As projeções vêm de estudo liderado pelo especialista em políticas públicas e gestão governamental Eduardo Augusto Fernandes Nilson, que é pesquisador e docente no Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Brasília. E o que estamos fazendo para tentar mudar esse quadro? Comendo mais. De acordo com o levantamento, mantidas as tendências atuais, em 2044, 130 milhões de adultos brasileiros viverão com sobrepeso ou obesidade (75%), sendo 83 milhões com obesidade e 47 milhões com sobrepeso. Hoje, esse contingente está em 56%. 

Nos papers dos estudiosos, eles destacam a alavancada rumo à obesidade no Brasil entre 2006 e 2019. A população obesa praticamente dobrou, chegando a 20,3% dos adultos. Em 2030, a previsão é de que ultrapassemos os 68%, sendo 29,6% para obesidade e 38,5% para sobrepeso. Os especialistas chegam a considerar o problema como uma epidemia de obesidade, com destaque para as mulheres, os negros e outras etnias minoritárias. Sem contar os gastos com comorbidades decorrentes dos problemas primários.

Entre as causas que levam à obesidade e a várias doenças, está a redução do consumo de frutas, verduras e legumes, principalmente pelos jovens. Os alimentos saudáveis são substituídos por refrigerante, sucos artificiais e ultraprocessados, com elevado percentual de calorias. Segundo a Organização Mundial da Saúde, ao lado da ingesta de produtos não saudáveis, a maioria das pessoas é sedentária, quando deveria, no mínimo, praticar 150 minutos de atividades físicas semanais. O comprometimento do sono, quando o ideal é dormir entre sete e nove horas por dia, também está entre os fatores que levam ao excesso de peso corporal e favorecem o surgimento de várias doenças.

Nesse levantamento, foi montada uma tabela da vida mostrando os impactos do sobrepeso e da obesidade sobre 11 doenças associadas ao índice de massa corporal (IMC) elevado. E a lista é grande: doenças cardiovasculares, doença renal crônica, cânceres, diabetes, além de outras condições atreladas ao envelhecimento da população. A estimativa é de 10,9 milhões de novos casos de doenças crônicas e 1,32 milhão de mortes associados ao sobrepeso e à obesidade. No ranking das comorbidades, o diabetes lidera, com 51% dos novos casos, e as doenças cardiovasculares, com 57% em termos de mortes até 2044. 

Enquanto não houver um planejamento de políticas públicas específicas que possam oferecer tratamentos assertivos para a população que se encontra com sobrepeso ou obesa, além de esquemas de prevenção capazes de conter essa avalanche — e aí, sim, incluindo todas as faixas etárias —, vamos cada vez mais nos afastar dos objetivos de termos uma população majoritariamente saudável. A esperança existe, mas o tempo está ficando cada vez mais curto. 

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postado em 28/06/2024 06:00
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