Na semana que passou, recebi o título de Cidadã Honorária de Brasília, iniciativa da deputada Paula Belmonte, numa cerimônia emocionante. Demorou a cair a ficha do meu merecimento, porque, afinal, o que fiz ao longo da vida, desde que cheguei aqui, eu chamo de trabalho. Exerci um jornalismo devotado a esta capital que me recebeu quando cheguei de Pernambuco, com uma mala e um diploma na mão.
Mas, ao ver e ouvir tantas pessoas me homenageando, amigos, colegas de trabalho e personalidades dessa cidade que eu amo, me senti recompensada e reconhecida. Mais do que isso, embarquei num túnel do tempo. Lembrei-me da chegada e do caminho que percorri. Não apenas o meu, mas também a trajetória da cidade. Não pude deixar de me ver numa outra Câmara Legislativa, recém-nascida, quando a autonomia política de Brasília era semente.
Participei lá do início, como repórter, cobrindo a primeira de todas as legislaturas e as discussões da Lei Orgânica do Distrito Federal, até sua publicação. Não estava só. Havia uma turma de jornalistas, entre repórteres e fotógrafos, que acompanhavam essa jornada. Alguns nomes eram Ana Paula Macedo, João Carlos Henriques, Ana Sá, Beto Seabra, Marcelo Agner, Ana Lúcia Galluf, Isabel Braga, Kátia Sartório e outros. Sou grata por essa companhia, pelas trocas, aprendizados e amizade. Com alguns, ainda divido o dia a dia na redação do Correio.
Nessa época, o Correio fez a campanha pela emancipação política, antes mesmo das primeiras eleições, em eventos, ao lado de entidades como a Associação Comercial. Vencida essa etapa, vieram a elaboração do regimento interno, a construção do Legislativo, as relações com GDF, as primeiras divisões entre oposição e situação. Cobri política muitos anos — na verdade, ainda cubro — e ainda tenho relações respeitosas com as fontes desde aquela época.
Naquelas horas de entrega do título, com impecável relato do mestre Silvestre Gorgulho, passou um filme na cabeça. Cheguei de novo em solo candango. As gerações de profissionais jornalistas e distritais se misturaram ali no plenário. Recebi com grata satisfação um presente emoldurado, com uma das primeiras matérias que fiz para o Correio, das mãos de Luís Tajes, fotógrafo que fez as fotos na época, ainda hoje um amigo leal e próximo. Estava na mesa ao lado de minha neta, Liz, numa quebra de protocolo da deputada Paula Belmonte, que me deixou mais confortável na posição de homenageada.
Amigos tocaram e cantaram no foyer do plenário da Câmara, com um repertório que rendeu do frevo ao pop rock brasiliense. Era a banda Temos Isso?, formada por repórteres e editores que foram/são do Correio, uma turma de gente boa que animava nossas festas do jornal. Obrigada, minha gente: Fabíola, Denise, Sibele, Carlos Alexandre, Dante, Pacífico. Vocês foram incríveis. Outros enviaram mensagens lindas. Minha família me prestigiou. Todas essas pessoas são parte das minhas conquistas, das minhas memórias e ainda do meu presente. A Omézio Pontes e Socorro Ramalho meu agradecimento sincero.
Pernambucana que sou, não nego nem renego minhas origens, da qual tenho um orgulho imenso. Mas, desde que pisei em solo candango, em 1987, renasci como jornalista e como cidadã brasiliense, agora com direito a batismo oficial. Agradeço a cada um que esteve ao meu lado neste dia que renovou minha sensação de pertencimento a Brasília.
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Sou devota desta cidade e testemunha de parte importante da sua história. E, confesso, não teria esse privilégio se não estivesse em um jornal que é a cara da capital, nascido e criado com ela. O Correio também merece meus sinceros agradecimentos.
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