* KIARA RAMOS
Recentemente, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) — Educação, divulgados pelo IBGE, revelaram uma preocupante queda no acesso à educação fundamental no Brasil, evidenciando a urgência de abordagens inovadoras para enfrentar esse desafio. O país não alcançou a meta de ter 95% das crianças e adolescentes de 6 a 14 anos matriculadas no ensino fundamental (1º ao 9º ano) pela primeira vez em oito anos.
O analfabetismo continua sendo uma realidade preocupante no país. A taxa de analfabetos na população brasileira em 2022, segundo dados do IBGE, estava em 5,6%. O Nordeste tinha a taxa mais alta (11,7%) e o Sudeste, a mais baixa (2,9%). Cerca de 9,6 milhões de pessoas com 15 anos ou mais de idade não sabiam ler e escrever.
Outro desafio é a taxa de evasão escolar, que agrava a situação da educação no país. Problemas como falta de estrutura adequada, pobreza e violência são alguns dos fatores que elevam esse dado. A soma dessas problemáticas cria um ciclo de desvantagem em que as crianças e os jovens são privados do direito à educação, consequentemente reduzindo suas oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional.
É nesse contexto que as tecnologias sociais (TS) emergem como ferramentas promissoras para impulsionar a educação e lidar com questões emergenciais. Essas tecnologias são ferramentas, métodos ou técnicas desenvolvidas para promover o desenvolvimento social, como a construção de jogos ou de peças feitas com materiais recicláveis, sem limites para criatividade de quem está à frente do processo e com a participação dos alunos, ajudando a promover um aprendizado mais eficaz e inclusivo.
O conceito das TS é buscar soluções para problemas de renda, trabalho, educação, conhecimento, cultura, alimentação, saúde, habitação, recursos hídricos, saneamento básico, energia, ambiente, igualdade de raça e gênero etc. Para tal, precisam, essencialmente, ser efetivas, reaplicáveis e promover a inclusão social e mais qualidade de vida das populações em situação de vulnerabilidade social. Assim, elas promovem o bem-estar de uma comunidade, que nem sempre tem ligação direta com a tecnologia em si, e têm entrado em cena para oferecer soluções personalizadas e acessíveis que consideram a realidade dos alunos.
Esse propósito tem movimentado iniciativas empreendedoras criadas por professores alfabetizadores que desenvolvem metodologias de ensino considerando o contexto, a realidade e a vivência de cada aluno, principalmente em municípios mais negligenciados do país. Essas metodologias também têm permitido ao professor um melhor planejamento das rotinas e a possibilidade de construir recursos didáticos, ferramentas e soluções adaptadas às necessidades específicas dos estudantes.
Considerar a realidade local dos alunos, em vez de assumir uma realidade única e improvável do país, é um benefício que se desdobra em uma formação mais justa, criativa e ágil, gerando impacto positivo especialmente na rede pública de ensino. Iniciativas assim ajudam a criar mais conexão dos alunos com a escola, porque consideram a vivência, o entorno e as suas realidades, gerando impacto cada vez mais positivo. Essa nova forma de ensinar pode se multiplicar por todo o país, estimular a criação de políticas públicas que apoiem e impulsionam o ensino desde a infância de cada brasileiro.
Reconhecer as disparidades regionais no analfabetismo e na evasão escolar, concentrando esforços nas regiões mais afetadas, é um início para o processo de transformação. Essa inovação alimenta um valor muito forte para a educação de forma geral: trazer a comunidade escolar para o processo, motivando a participação da família na construção e no desenvolvimento de atividades em parceria com a escola que considera a realidade de pais e responsáveis, em grande parte também analfabetos, mas que assumem um compromisso com a educação de seu filho.
Portanto, investir em tecnologias sociais e abordagens inovadoras é essencial para reduzir as disparidades educacionais e garantir um futuro mais promissor para as crianças e os adolescentes do Brasil, além de trabalhar a felicidade do profissional de educação como agente da transformação.
* Fundadora e coordenadora de Mobilização da ONG Rede Synapse
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