O Relatório Anual de Desmatamento da rede MapBiomas apontou que, em 2023, o Cerrado passou a ser o bioma mais desmatado no Brasil. É o quinto ano consecutivo em que o estudo é realizado e, pela primeira vez, a Amazônia não lidera o ranking.
O Brasil precisa de uma política robusta para combater os efeitos das mudanças climáticas, e o desmatamento é um dos fatores mais importantes nesse aspecto. O que temos visto é, muitas vezes, um retrocesso, como em Goiás, onde o governo do estado implantou processos e mudanças legislativas que facilitaram — para não dizer, estimularam — o desmatamento do Cerrado.
De acordo com o MapBiomas, o Cerrado teve alta de 67,7% em seu desmatamento, chegando a 1,1 milhão de hectares, quase sete vezes a área da cidade de São Paulo. O Cerrado se estende do Maranhão ao Mato Grosso do Sul e parte de Minas Gerais, passando por Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Bahia e outros estados do Nordeste.
Já o Pampa, que ocupa mais da metade do território do Rio Grande do Sul, teve 49,5% de queda em seu desmatamento. Na Amazônia, a queda foi de 62,2%.
O deslocamento do foco principal do desmatamento no Brasil é uma má notícia. Mesmo tendo perdido a liderança do ranking, a Amazônia, nosso maior bioma, continua sendo devastada. E nas áreas remanescentes de Cerrado, onde deveríamos esperar um esforço maior de preservação, estamos vendo exatamente o contrário.
Volto ao exemplo de Goiás. No ano passado, o estado perdeu 651 quilômetros quadrados de vegetação nativa, alta de 125% em relação ao ano anterior. Isso equivale a praticamente toda a cidade de Goiânia, que tem 729 quilômetros quadrados de área. E o que fez o governo estadual? Mudou leis para diminuir a proteção do Cerrado, facilitando ainda mais a devastação.
Reflorestar é um caminho bastante viável — e necessário — para a questão da compensação das emissões de carbono. Mas é fundamental lembrar que a preservação da floresta nativa é fundamental para muitas indústrias e setores econômicos, como a farmacêutica e a de frutas nativas, por exemplo.
A responsabilidade pela preservação ambiental é dos governos estaduais e também do governo federal, que lançou em novembro um plano de combate ao desmatamento no Cerrado com resultado zero até o momento.
O Brasil pode liderar a economia de baixo carbono no mundo. Para isso, é preciso ir além do ativismo característico dos governos de extremos que comandaram o país nos últimos anos. Precisamos evitar que "a boiada passe" ao mesmo tempo em que fugimos da política de lacração sem ação.
O agro, tão agredido por um dos extremos, tem grandes exemplos de manejo sustentável. O Brasil tem terras suficientes para produzir sem derrubar uma única árvore nativa. E temos excelentes centros de pesquisa que constantemente trazem soluções para uma maior produtividade sem agredir ao ambiente.
O descaso dos governos com a preservação dos biomas traz consequências gravíssimas. Uma delas é econômica. O agro brasileiro conta com a preservação para evitar restrições ou sobretaxas aos nossos produtos no exterior. Outra consequência é ambiental, e a tragédia no Rio Grande do Sul está nos mostrando como a natureza reage às mudanças climáticas causadas pela falta de preservação.
Há soluções possíveis, já testadas e com eficácia comprovada. O Cerrado, assim como a Amazônia, tem um enorme potencial turístico praticamente inexplorado e carente de projetos. A utilização de créditos de carbono é outro vetor pouco ou nada utilizado.
Estímulos governamentais para manter a floresta em pé, por exemplo, mesmo que o Código Florestal permita o desmatamento de até 80% em áreas particulares, é uma medida simples, de baixo custo e alto impacto, com recursos disponíveis, por exemplo, pelo Fundo do Clima, formado com recursos dos royalties do petróleo.
Mas nem isso a burocracia federal permite. Há na fila do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) empresas aguardando a liberação de recursos para a compra de áreas para reflorestamento, mas o nível de exigência é tão grande e tão desconexo que os recursos nunca são liberados. Com tecnologia, inovação, coragem, vontade e competência, o Brasil pode se tornar a maior economia verde do planeta.
*MARCONI PERILLO — Presidente nacional do PSDB, foi governador de Goiás por quatro mandatos e senador da República
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