Artigo

Artigo: Dermatite atópica e seus impactos além da pele

É hora de reconhecer o sofrimento que muitas vezes passa despercebido pela sociedade e trabalhar em conjunto para melhorar a jornada de quem vive com dermatite atópica

Dermatite atópica -  (crédito: Dermatologische Klinik, USZ)
Dermatite atópica - (crédito: Dermatologische Klinik, USZ)

Adriana Ribeiro*

Você já imaginou viver com uma doença de pele que afeta não apenas sua aparência física, mas também sua saúde emocional, sono, relações sociais e desempenho profissional? A dermatite atópica é uma doença crônica e multifatorial que envolve aspectos genéticos, ambientais e imunológicos, acometendo milhões de pessoas em todo o mundo. Um levantamento recente realizado pelo Instituto Lumini Conhecimento, a pedido da Pfizer, traz à tona dados surpreendentes sobre seus impactos. 

A pesquisa intitulada A vida com dermatite atópica no Brasil ouviu 856 participantes, incluindo adultos com doença moderada a grave e pais ou responsáveis por crianças e adolescentes com a mesma condição. Os números revelam uma realidade contundente. Enquanto 72% dos pacientes adultos sentem que sua aparência física é afetada negativamente pela doença e 67% consideram que o estado emocional é abalado, para 72% dos cuidadores há sinais de que a saúde emocional desses jovens e crianças é comprometida, ao passo que 45% destacam o impacto na aparência física. 

Subestimada e frequentemente confundida com uma alergia de pele passageira, a dermatite atópica realmente vai muito além das lesões de pele. Os prejuízos ao bem-estar emocional são evidenciados na pesquisa: 69% dos pais e responsáveis concordam que a dermatite atópica traz instabilidades emocionais, choro, irritação e sentimentos de depressão ou ansiedade nas crianças e nos adolescentes que estão sob seus cuidados. 

Esse percentual de concordância chega a 55% quando os cuidadores respondem sobre os episódios de preconceito e bullying na escola em função da aparência da pele. Outros problemas, como prejuízos no rendimento escolar e isolamento social, bem como grandes dificuldades na hora do sono, também aparecem na pesquisa. 

Nos pacientes adultos, a vergonha da aparência sobressai. Chamam a atenção as dificuldades na vida profissional: quase metade (48%) concorda, totalmente ou parcialmente, que a doença restringe atividades profissionais que tenham maior interação com o público em geral. Muitas vezes, acabam optando por atividades que possam realizar em casa e que permitam alguma flexibilidade em relação a faltas ou afastamentos. 

Isso pode significar abandonar sonhos e projetos de vida. Um paciente com talento para chef de cozinha, por exemplo, poderá sentir dificuldades em seguir adiante se o calor piora as lesões e se, muitas vezes, quem está ao seu redor tem a falsa percepção de que a doença é contagiosa ou rotula como falta de higiene a eventual presença de fragmentos de pele nas roupas, provenientes da descamação. Metade da amostra de pacientes adultos também aponta o impacto da doença para sua vida amorosa e sexual. 

Durante as crises, os aspectos emocionais ganham força: 25% dos cuidadores afirmam que os pacientes infantojuvenis precisam utilizar medicamentos para ansiedade ou depressão, um percentual que cai para 11% quando a enfermidade está sob controle. 

As épocas mais difíceis da doença também podem estimular uma busca maior por tratamentos caseiros ou automedicação, em busca de alívio rápido. Para se ter ideia, 59% dos pacientes adultos chegam a utilizar algum tipo de corticoide, número que sobe para 70% entre crianças e adolescentes. Mas, mesmo quando a doença está sob controle, essas taxas são elevadas: 38% no primeiro grupo, subindo para 48% entre o público infantojuvenil. Importante frisar que o uso indiscriminado de corticoides sistêmicos, orais ou injetáveis, sem acompanhamento médico, está associado a uma extensa lista de efeitos colaterais na literatura médica. 

Quanto ao diagnóstico, a pesquisa indica que pais e responsáveis agem mais rapidamente diante do aparecimento dos sintomas. Entre os adultos, 30% dizem que buscaram suporte médico apenas após várias ocorrências dos sintomas. Os dados sugerem, ainda, que identificar a dermatite atópica rapidamente pode ter sido ainda mais desafiador no passado, quando muitos dos adultos de hoje tiveram seus primeiros sintomas: nesse grupo, apenas 37% dizem que o primeiro diagnóstico recebido foi correto, porcentual que sobe para 52% entre crianças e adolescentes. O tempo para a descoberta da doença também é diferente: se 29% das crianças e adolescentes receberam o diagnóstico já na primeira consulta, pelo menos 21% dos adultos levaram mais de três anos. 

Por fim, a pesquisa destaca o papel da informação na jornada dos pacientes: 84% dos entrevistados buscaram informações antes da primeira consulta médica. Em ambos os perfis de respondentes, a principal estratégia usada na internet foi o Google, seguida pelas buscas em portais de saúde e, por fim, o uso de redes sociais. É fundamental fornecer informações confiáveis para capacitar os pacientes na tomada de decisões sobre sua saúde. 

Os números dessa pesquisa não apenas revelam os impactos profundos dessa condição, mas ressaltam a importância da conscientização, do diagnóstico precoce e do acesso a tratamentos adequados. É hora de reconhecer o sofrimento que, muitas vezes, passa despercebido pela sociedade e trabalhar em conjunto para melhorar a jornada de quem vive com dermatite atópica. Por meio da informação, empatia e apoio, podemos melhorar significativamente a qualidade de vida daqueles que vivem com a doença.

*Diretora médica da Pfizer Brasil

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 01/06/2024 06:00
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação