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Operação Taquari 2: um mês de uma grande lição

Esses 30 dias de operação no Rio Grande do Sul também nos deixam uma lição. O Brasil dá um imenso exemplo de união e solidariedade

Hertz Pires do Nascimento*

Nada detém a inexorável marcha do tempo. Tempo, este, que é relativo. O que pode ser muito e causar ansiedade para uns, pode ser pouco e passar despercebido para outros. Mas, independente do tamanho e dos sentimentos que provoque, é fato que o tempo nunca para. 

Esse mesmo tempo nos faz completar nesta quinta-feira, 30 de maio, um mês da maior catástrofe natural da história do Rio Grande do Sul, uma das maiores do Brasil. É o maior sofrimento da vida de milhões de gaúchos, de imensurável impacto socioeconômico em todo o estado. O tempo será longo para recuperar e reconstruir, mas extremamente curto para agir e recomeçar.

Quando o tempo piorou, no fim de abril, rapidamente mobilizamos todas as nossas tropas e unimos esforços com dezenas de agências e instituições, públicas e privadas, dos mais diversos ramos de atuação, cada uma com know-how em alguma demanda ou necessidade. 

O Comando Conjunto da Operação Taquari 2 foi instalado em 30 de abril, em Porto Alegre, e, desde então, militares, policiais, bombeiros, autoridades civis, especialistas, agentes federais, estaduais e municipais trabalham sem parar. São mais de 30 mil bravos profissionais envolvidos em uma gigante força-tarefa, com comando, coordenação, planejamento e ação. Empregamos 3,7 mil viaturas, 75 aeronaves, 300 embarcações, nove navios, 12 hospitais de campanha, drones para localizar vítimas isoladas, modernos equipamentos de engenharia e pessoal altamente capacitado. 

Desde o início, o foco foi total em resgates e proteção da vida. Mais de 71 mil pessoas e 10,5 mil animais foram socorridos em 469 municípios. Em uma segunda fase, distribuímos provisões para pessoas e animais, com centenas de toneladas de alimentos, ração, água potável, remédios, roupas, colchões, cobertas, materiais de limpeza e higiene. Já em uma terceira fase, focamos na desobstrução de acessos e estradas, limpeza de escolas, sistema para purificação de água e ligações entre localidades, especialmente com pontes móveis, botes e passadeiras de pedestres sobre cursos de água. 

Todo o Brasil se mobilizou para enviar donativos, equipes de resgate, equipamentos, aeronaves e veículos especializados. Também recebemos ajuda internacional de diversos países. Muitos desses heróis viajaram por longos dias e rodaram milhares de quilômetros até chegar aos mais isolados rincões do Rio Grande do Sul. 

Todos se apresentaram como voluntários, deixaram as famílias em casa e trabalham incansavelmente, 24 horas por dia, sete dias por semana. Molhados, enlameados, dormindo pouco e comendo quando dava tempo. Mas sem cogitar qualquer hipótese de parar e totalmente empenhados na missão de salvar vidas e reconstruir um estado onde, muitos deles, nunca estiveram antes ou não têm qualquer vínculo familiar. Não tinham, pois, doravante, mais do que nunca, estão todos irmanados. Nosso reconhecimento pelo incansável empenho, coragem e resiliência na nobre ação de salvar irmãos. Igualmente, ressaltamos o importante papel da imprensa, que fez ecoar a verdade e despertou a atenção para a necessária mobilização de toda a nação.

O tempo será longo. Corremos contra ele. E ainda trabalharemos muito. Foi-se o tempo em que se fazia tudo sozinho. Não há tempo para protagonismo e vaidades. Nesta ímpia e injusta guerra, todos devem mostrar valor e constância. Passado o primeiro mês de operação, ficam vários sentimentos. Primeiro, e óbvio, o pesar pelas vidas ceifadas. Absolutamente nada se compara à dor de quem perdeu alguém na tragédia. Assim como é triste demais o prejuízo material de quem viu ser destruído tudo aquilo que conquistou com esforço durante toda a vida.

Mas esses 30 dias também nos deixam uma lição. O Brasil dá um imenso exemplo de união e solidariedade. A quantidade de donativos que chega ao Rio Grande do Sul é enorme, bem como a de voluntários a ajudam nesse esforço. No Comando Conjunto da Operação Taquari 2, a sinergia entre as instituições é admirável, cada uma dentro do seu segmento e especialidade, respeitando o tecnicismo e convergindo de maneira dinâmica e profissional. 

Que a tragédia nos engrandeça, fortaleça nossa união, eleve nossa fé em Deus e nossa confiança nas agências, instituições e na força do voluntariado. E que nossas façanhas continuem servindo de modelo a toda a Terra.

*General de Exército e comandante conjunto da Operação Taquari 2

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