» Maria Helena Guimarães de Castro, Titular da Cátedra do Instituto Ayrton Senna de Avaliação Educacional
» Beatriz Alquéres, Gerente-executiva de Advocacy do Instituto Ayrton Senna
Se para o grande historiador grego Heródoto "a educação não é encher um balde, é acender um fogo", os professores são aqueles que acendem essa chama que nunca se apaga. Eles desempenham um papel essencial na formação de indivíduos críticos e criativos, e seu impacto vai muito além das paredes da sala de aula. Valorizar esses profissionais é uma tarefa urgente e necessária, que deve ser endereçada por meio de ações concretas e políticas públicas que respondam aos desafios atuais.
Investir na formação e valorização dos professores significa implementar estratégias eficazes para atrair mais jovens para essa importante profissão, oferecendo condições de trabalho dignas e oportunidades contínuas de desenvolvimento pessoal e de carreira.
Hoje, no Brasil, cerca de 77% dos professores acreditam que sua profissão não é valorizada e 74% afirmam que não são respeitados pela sociedade em geral, segundo dados de 2021 do Instituto Península. No entanto, esses mesmos professores indicam que, para se sentirem mais valorizados, é necessário melhorar a carreira (99%) e as condições de trabalho (99%). Ou seja, a valorização que os professores buscam não depende apenas da sociedade em geral, mas está nas mãos das lideranças educacionais que ocupam cargos públicos no nosso Executivo e Legislativo.
A pauta dos professores é sempre motivo de cautela por ministros e secretários de Educação. As necessárias negociações com os sindicatos podem ser desafiadoras, frequentemente atravessadas por questões políticas partidárias, e muitos preferem evitar confrontos. Enquanto isso, crianças e jovens de várias gerações perdem a oportunidade de vivenciar uma melhoria significativa na educação.
Em pesquisa recente da Fundação Getulio Vargas (FGV), os resultados apontaram que os professores são responsáveis por quase 60% do desempenho dos alunos no ensino fundamental. Isso significa que a influência desses profissionais supera outras variáveis, como o tamanho das turmas, o nível de escolaridade dos pais ou a infraestrutura das escolas. Investir nos professores é praticamente garantia de retorno na melhoria da educação pública do país.
Na semana passada, ocorreu o encontro das equipes técnicas de educação dos países-membros do G20 em Brasília e, durante três dias, fomos sede de um debate altamente qualificado sobre valorização docente. Liderado pelo Ministério da Educação (MEC), estavam presentes 43 delegações, membros de organismos internacionais e, em evento especial, a sociedade civil e membros do nosso Legislativo.
Em grande articulação, a Frente Parlamentar Mista pela Educação, com o apoio técnico de organizações do terceiro setor, promoveu um jantar de encerramento em que foi possível realizar uma troca de experiências com outros países e sensibilizar deputados, senadores e secretários de todas as regiões para essa pauta mais que urgente. Alguns dias depois, o MEC homologou o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) que aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial para o Magistério, um passo importante para o nosso país.
No Brasil, identificamos várias oportunidades para avançar nessa temática. A implementação do novo Enade das licenciaturas, que avalia a formação de professores, e a promoção do desenvolvimento integral dos docentes, considerando habilidades técnicas, socioemocionais e digitais, são exemplos. Novos modelos de estágio probatório estão sendo testados, permitindo que as redes públicas formem e acompanhem novos professores, garantindo profissionais de alta qualidade. Além disso, programas como a Residência Pedagógica e o PIBID, ambos do MEC, demonstram impacto positivo na formação inicial docente e podem ser ampliados.
Ainda há muito a ser criado, mas garantir a implementação qualificada das políticas já desenhadas seria um grande passo rumo a melhores indicadores educacionais. Para isso, são essenciais vontade política, priorização na pauta educacional e trabalho colaborativo entre governo e sociedade civil.
O encontro das equipes técnicas de educação do G20 em Brasília foi uma grande oportunidade para destacar a formação e valorização docente. Eventos como esse devem servir como catalisadores para que o tema continue recebendo a atenção necessária ao longo do ano, fortalecendo o compromisso das lideranças com a melhoria da educação pública no país.