Artigo

Na via da involução

Riquezas da flora e da fauna ainda não identificadas são dizimadas para favorecer empreendimentos financeiros, imobiliários, agrícolas e outros, sem levar em conta os impactos dessas atividades na sociedade

O noticiário mostra o que ocorre no Oriente Médio, entre Israel e o grupo terrorista Hamas, com chacinas diárias de palestinos, e no leste europeu, com a guerra entre Rússia e Ucrânia. No Brasil, a situação piora a cada dia. Não são apenas pelos atos de violência, que ceifam vidas de mulheres — no DF, chegou-se ao sétimo feminicídio —, jovens, crianças e idosos também são vítimas. 

Chamam a atenção os atos do Congresso Nacional. Hoje, no Legislativo, tramitam projetos de lei e alterações na Constituição que chancelam a destruição do patrimônio natural, riqueza que torna o Brasil invejado pelas nações que, em nome do questionável desenvolvimento, consumiram suas riquezas naturais. As justificativas são produzidas com argumentos que negam a orientação de cientistas e especialistas. Prevalece o negacionismo (narrativas infundadas) com dimensões absurdas e incompatíveis com os avanços conquistados pela humanidade. Hoje, países ricos e pobres sofrem igualmente com as mudanças climáticas e muitos lamentam as políticas ambientais do passado, que tragaram o patrimônio natural até então existente.

Os países, com raras exceções, estão involuindo, e o Brasil não foge à tendência da maioria. Riquezas da flora e da fauna ainda não identificadas são dizimadas para favorecer empreendimentos financeiros, imobiliários, agrícolas e outros, sem levar em conta os impactos dessas atividades na sociedade. Perde-se a proteção natural que o planeta oferece contra os fenômenos climáticos devido à ganância. Aliás, os eventos extremos estão relacionados às intervenções antrópicas do passado e dos persistentes ainda hoje.

Os governantes nacionais — não todos — reconhecem que proteger o patrimônio natural é evitar tragédias, privar a população de sofrimento e mitigar as perdas causadas pelos eventos extremos do clima. A população do Sul enfrenta, a cada dia, um drama pior, devido às intervenções absurdas que fizeram na natureza. O Rio Grande do Sul virou lama, com os temporais torrenciais. Santa Catarina e Paraná começam a passar pelo mesmo drama gaúcho — pelo visto vão derreter também. 

Os extremos climáticos estão ocorrendo, destruindo cidades, impondo a falência do setor produtivo, ceifando vidas. Lá se vão projetos e sonhos água abaixo. Nada disso consegue remover o negacionismo que produz aberrações, alimenta discursos rasos e fraciona a opinião pública, acirrando um racha ideológico na sociedade.

As máquinas de produção de mentiras (fake news) funcionam diuturnamente. Não dão trégua diante da enorme catástrofe que corrói a Região Sul, e da qual os demais estados do país não estão livres, seja por chuvas intensas, seja pelas secas calcinantes. No fim do ano passado, em menor proporção, o Amazonas sofreu uma seca inédita — não foi a primeira, mas a mais cruel para os amazonenses. 

Os rios secaram e inúmeras comunidades ficaram isoladas sem acesso às cidades e aos serviços imprescindíveis, como os da saúde. Faltaram água potável, energia, comunicação entre outras necessidades. Tudo isso no estado que tem o maior rio do mundo, o Amazonas, que lança  210 mil litros de água por segundo no Oceano Atlântico.

A  ciência avança, com a produção de medicamentos que propiciam estender a longevidade, vacinas que interrompem os ataques mortais de vírus. As tecnologias, nos mais diversos segmentos, colaboram para que os humanos tenham mais tempo de ociosidade. Tudo para facilitar a vida e garantir que homens e mulheres desfrutem de momentos saudáveis e aprazíveis.

Todas essas benesses, alertas e fatos são desprezados pelos detentores de poderes. Impossível imaginar o que diria Charles Darwin, que esteve no Brasil há dois séculos, autor de seis obras paradigmáticas, que tratam da evolução das espécies. Hoje, assistimos às decisões e às atitudes que, em ritmo acelerado, trafegam na via da involução humana. 

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