"Em boca fechada não entra mosquito." "Quem fala demais dá bom-dia a cavalo". Além dos dois ditados populares, há uma frase conhecida entre o povo apache que reflete bem o que ocorre com um vizinho nosso: "É melhor ter menos trovão na boca e mais relâmpago na mão". Javier Milei, assim como um certo ex-presidente brasileiro, precisa aprender a se comportar como um chefe de Estado. Talvez seja um problema da extrema direita o desprezo da liturgia do cargo. Ou a falsa sensação de onipotência que a cadeira presidencial proporciona. O líder argentino viajou a Madri e sentiu-se no direito de falar mais do que devia.
Não bastasse a falta de bom senso e de educação, ao chamar a esposa do premiê espanhol, Pedro Sánchez, de "corrupta", Milei insultou o partido governista na Espanha e seus eleitores, ao classificar o socialismo como "satânico" e "cancerígeno". Coisa de gente pouco estudada. Se se desse ao trabalho de ler um pouco, em vez de falar bobagem, perceberia que o tal "socialismo", ainda que utópico nos dias de hoje, funcionaria como um sistema perfeito para combater a desigualdade social e a miséria. Mas o tal socialismo não existe mais desde a queda da Cortina de Ferro. Seguidores de Milei e de Jair Bolsonaro preferem não ver essa realidade.
O cargo de presidente exige, sobretudo, responsabilidade. O governante da Argentina tem, em suas mãos, o destino de 46,9 milhões de cidadãos. O que se fala reverbera sobre o futuro de um país, suas relações comerciais, sua imagem perante o mundo. O ex-presidente Jair Bolsonaro também provocou um imbróglio diplomático com a França, ao insinuar sobre a aparência e a idade de Brigitte Macron, esposa de Emmanuel Macron, e compará-la com Michelle Bolsonaro. Por sorte, a crise diplomática não escalou.
Respeito entre pessoas, entre governantes e entre nações é algo que deve ser cultivado sempre. É inadmissível que pretensos estadistas façam troça, como se fossem moleques em idade escolar. Se políticos querem ser dignos de ocupar o cargo mais alto de uma nação, precisam, ao menos, seguir os conselhos de seus assessores e de sua chancelaria. E fechar a boca quando o impulso fala mais alto.
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