A conquista do direito de receber a Copa do Mundo Feminina em 2027 é controversa. Estamos sabendo nos vender muito bem lá fora como anfitriões e tratando mal os nossos produtos aqui dentro. Liderada por mulheres, a campanha do país foi irretocável. A apresentação de 15 minutos no 74º Congresso da Fifa deu banho na concorrência em originalidade, modernidade e sensibilidade. A goleada nas urnas traduz: 119 votos para o Brasil, 78 a favor da candidatura conjunta de Alemanha, Bélgica e Holanda, além de 10 abstenções.
O torneio fechará um ciclo de 20 anos. Nunca antes na história desse país recebemos tantos eventos esportivos de ponta. Pan do Rio-2007, Copa das Confederações em 2013, Copa do Mundo Masculina em 2014, Olimpíada do Rio-2016, Copa América em 2019 e em 2021, Mundial Sub-17 em 2019 e a Copa Feminina em 2027. O evento utilizará 10 das 12 arenas de 2014. Ligga Arena e Arena das Dunas ficaram fora. Os 64 serão no Rio (abertura e final), Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Salvador, Fortaleza, Recife, Porto Alegre, Manaus e Cuiabá.
O padrão de excelência e de convencimento do Brasil contrasta com os maus tratos aos nossos torneios. É desrespeito Brasileirão Feminino a toque de caixa em turno único e mata-mata. A Série A1 começou em 15 de março e terminará em 22 de setembro depois da Olimpíada. A 11ª das 15 rodadas da primeira fase começa hoje. Quem não avançar às quartas ficará sem agenda depois de 27 de junho. Não temos Copa do Brasil Feminina. O torneio parou em 2016. Logo, restarão os estaduais.
Difícil para quem milita na elite, pior para a Série A3. A última divisão começou em 13 de abril. Mata-mata do início ao fim. Representantes candangos, Cresspom e Sobradinho se enfrentaram na primeira fase em jogos de ida e volta. Eliminado, o Cresspom jogou duas vezes e fechou para balanço até o Candangão Feminino. O Sobradinho caiu nas oitavas contra o Ação-MT e está sem agenda até o campeonato local.
A candidatura vitoriosa do Brasil tem 10 arenas de ponta para a Copa de 2027. Acredite: só uma é usada na Série A1 do Brasileirão Feminino. O Corinthians manda partidas na Neo Química Arena.
A estética da Série A1 do Brasileirão é assustadora. As transmissões dos jogos do Flamengo mostram entulhos das obras no Estádio Luso-Brasileiro, na Ilha do Governador. O time mandava na Gávea sem torcida. A arquibancada não dá segurança ao público. Há jogos marcados para 15h, 16h, em dia de semana. Partidas em centro de treinamento!
Um trechinho da música do Paralamas do Sucesso diz assim: "Cuide bem do seu amor". Isso vai muito além de a CBF distribuir R$ 6 milhões, a maior premiação da história da Série A1. Se queremos o futebol feminino como paixão nacional, precisamos zelar pelos pequenos detalhes antes da Copa do Mundo Feminina. Ou esperaremos de braços cruzados à espera do legado?
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