A campanha Faça Bonito — uma mobilização nacional para o enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes — lembra que para combater a barbárie "é preciso conhecer bem o problema". Estamos muito longe dessa consciência. Os abusos contra meninos e meninas ainda são mantidos sob o manto da invisibilidade. Predomina por aqui a cultura do silêncio, e o poder público tampouco atua efetivamente contra a perversidade.
O Brasil é um país onde crianças são as principais vítimas de violência sexual. Dos estupros registrados em todo o território nacional, 61,3% são cometidos contra menores de 13 anos, o que significa mais de quatro meninos ou meninas abusados sexualmente por hora. E o crime tem um padrão ainda mais covarde: em 82,5% dos casos, os agressores são pessoas conhecidas e da confiança das vítimas, a maioria familiares ou parentes. Os dados são do Instituto Liberta com base em levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2022.
Para tentar lançar luz sobre essa calamidade estão ocorrendo mobilizações pelo país todo, que marcam o 18 de Maio, Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes. É preciso fazer o país entender a dimensão gigantesca da crueldade e suas gravíssimas consequências. União, estados, municípios, cidadãos e empresas têm de se envolver nessa luta. São necessárias ações individuais e do Estado, com políticas públicas capazes realmente de combater a violência e assegurar a proteção dos vulneráveis.
O enfrentamento também passa pela conscientização das pessoas sobre a importância de denunciar as violações. Os canais são Disque 100 (do Ministério dos Direitos Humanos), o número 190 (emergência policial) ou o 197 (Disque Denúncia), delegacias, conselhos tutelares, aplicativo Proteja Brasil ou pelo site safernet.org.br.
Manter crianças e adolescentes a salvo de todos os tipos de violência é um dever da família, da sociedade e do Estado, determinado pela Constituição em seu artigo 227. Mas, ante a inércia de quem deveria protegê-los, meninos e meninas continuam sendo alvos fáceis e indefesos de predadores sexuais.