A divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central ontem revelou os motivos de os diretores estarem divididos em relação ao corte da taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto ou 0,25 ponto, com esse último patamar prevalecendo com o voto minerva do presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto. Ao contrário do que se podia esperar, não houve divergência entre os diretores do Banco Central que integram o Copom em relação ao compromisso com as metas de inflação.
Maior cautela com o cenário internacional, ou mesmo sobre influências políticas também não foram motivo de impasse, mas sim a reputação do BC e às expectativas do mercado financeiro. Os diretores divergiram sobre o custo de não seguir a orientação deixada na ata da reunião de março, na qual havia sinalização para outro corte de 0,5 ponto percentual.
Pela ata, mesmo os diretores que votaram por manter o corte previsto deixaram claro o compromisso com a meta de inflação, enquanto os que votaram por um corte menor fizeram por avaliar que houve alteração no cenário a ponto de justificar uma mudança em relação à sinalização ao mercado feita anteriormente.
Como foi o mercado financeiro quem começou a apostar em um corte menor na Selic dias antes da reunião, cabe uma pergunta: o Copom sinaliza para o mercado financeiro a diretriz da política monetária ou é o mercado financeiro que sinaliza o que deve fazer o Banco Central? Não houve divergências em relação ao rigor com o cumprimento da meta fiscal nem uma negligência com a deterioração das condições da economia global.
Toda discussão em relação às expectativas do mercado financeiro é válida, porque são os investidores que dão suporte à rolagem da dívida pública via títulos do Tesouro. Mas ao tratar da política monetária, o Banco Central deveria dar um peso maior para a economia real.
Todos os setores econômicos veem com apreensão os riscos, principalmente em relação à inflação. Mas, com ela em queda, foram unânimes em avaliar que havia sim espaço para um corte de 0,5 ponto, com a Selic baixando para 10,25% e não os 10,5% decididos pelo Copom.
Menos juros representam expansão da capacidade de investir das empresas e consumo das famílias e do setor privado, além, é claro, de redução no custo dos endividamentos. Além disso, cada ponto a menos na Selic representa dezenas de bilhões de reais que deixam de ir para o pagamento dos juros da dívida, contribuindo assim para o equilíbrio das contas públicas, que geram tanta apreensão no mercado financeiro.
O Brasil tem, hoje, a segunda maior taxa de juro real do mundo, o que não se justifica neste momento. É preciso que a política monetária esteja sintonizada com a necessidade do país, mais do que com as expectativas do mercado. O Banco Central tem autonomia (ou deveria ter) em relação ao governo e ao mercado financeiro.