CELSO NISKIER*
No começo de abril foram divulgados os resultados de três dos principais indicadores de qualidade da educação superior. Como ocorre todos os anos, o anúncio gerou grande repercussão e acalorados debates sobre a qualidade das graduações. O que pouco permeou as discussões foi a aplicação de uma metodologia-padrão para cursos e instituições com realidades e objetivos distintos.
Cabe ao Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apurar os dados do Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD); o Conceito Preliminar de Curso (CPC); e o Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC). Nesta edição foram divulgados os resultados referentes a 2022.
A boa notícia é que tanto as instituições de ensino superior quanto o Inep estão cientes de que os indicadores devem evoluir. Neste ano, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) completa 20 anos e tanto o Ministério da Educação (MEC) quanto o instituto ressaltaram a importância de avançar na construção de uma nova cesta de indicadores capazes de reconhecer e valorizar as características específicas dos cursos e as diferentes missões institucionais.
Ainda de acordo com o Inep, os estudos para monitorar aspectos como a eficiência das instituições, as condições de oferta específicas de cursos a distância e a produção de indicadores por área de conhecimento já começaram. As propostas devem contemplar um aspecto bastante importante tanto para as instituições quanto para os alunos: a empregabilidade dos egressos.
A questão é tão central para o setor privado que há três anos, em parceria com a Symplicity, desenvolvemos o Indicador ABMES/Simplicity de Empregabilidade (IASE). Com a contribuição de instituições e do próprio Inep, a iniciativa acompanha o desempenho dos graduados, permitindo a criação de indicadores de relevância nacional e que podem ser incorporados ao novo modelo de avaliação em construção.
Trata-se de um empenho necessário e acompanhado de perto pela ABMES. É imprescindível mensurar a qualidade do ensino superior brasileiro e ter indicadores que ajudem as instituições a adaptarem e melhorarem seus cursos para uma oferta mais qualificada e conectada com as demandas e necessidades dos tempos atuais.
A mudança é necessária e requer celeridade. Uma avaliação mais justa — e, por que não dizer, realista — deve considerar critérios como a diversificação do modelo, as diferenças regionais e as missões distintas, como das universidades especializadas. Há ainda as faculdades isoladas nas pequenas cidades com significativa conexão com a comunidade e particularidades regionais. Além de contemplar as novas estruturas e possibilidades educacionais, como os modelos híbridos de aprendizagem e o desenvolvimento das habilidades socioemocionais dos estudantes. Somos favoráveis à ampla avaliação na educação superior, mas há muito a melhorar no modelo atual.
*Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e reitor do Centro Universitário UniCarioca