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Artigo: Dois lados da catástrofe

No meio de todo esse lixo, gente que perdeu tudo. Não apenas bens materiais e patrimônios, mas memórias afetivas

O que houve com a humanidade? Onde estão a empatia, a comiseração, o altruísmo, o respeito? Acabo de ler que vândalos, marginais, saqueiam lojas, atacam barcos de resgate e ameaçam socorristas no Rio Grande do Sul. Na Arena do Grêmio, tomada pela enchente, larápios arrebentaram a porta da loja oficial do clube e fizeram um "limpa". A insegurança levou muitos voluntários a desistirem dos trabalhos de resgate durante a noite. Nas redes sociais, a extrema direita despeja fake news relacionadas a uma das maiores tragédias climáticas da história do Brasil. Propala uma inexistente inação do governo federal, calunia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aproveita a catástrofe para tumultuar da forma mais rasteira possível. Politicalha não cabe em um momento de horror, de luto e de sofrimento. Atitudes criminosas devem ser coibidas com todo o peso da lei.

No meio de todo esse lixo, gente que perdeu tudo. Não apenas bens materiais e patrimônios, mas memórias afetivas. Pior: crianças órfãs de pai e mãe, pais que viram seus bebês serem engolidos pela água, seres humanos obrigados a escolher qual dos filhos será resgatado. Ainda bem que atitudes nobres e dignas ofuscam a banda podre da humanidade. Em questão de dias, uma imensa corrente de solidariedade tomou conta de todo o Brasil. Um país irmanado na dor do povo gaúcho. O momento exige união de todas as forças políticas e de movimentos sociais em prol dos flagelados. Proselitismo político precisa ser tratado com o máximo rigor. Quem pretende tirar proveito de uma tragédia merece nada menos do que pena.

Quando as águas baixarem; os mortos forem contados e sepultados dignamente; e o processo de limpeza das cidades e a reconstrução da infraestrutura estiverem concluídos, será o momento de as autoridades e os especialistas traçarem medidas efetivas de mitigação. Ações emergenciais que, caso possível, reduzam as perdas humanas e materiais provocadas pelas inundações. É fato que as chuvas torrenciais e as enchentes serão eventos cada vez mais comuns no Sul e em outras regiões do Brasil. O poder público tem a obrigação de planejar estratégias para facilitar o escoamento da água ou proceder com a retirada de populares de modo antecipado. Também aprimorar mecanismos de combate ao aquecimento global, medida essencial para diminuir o impacto das catástrofes ambientais.

Quanto aos vândalos, aos disseminadores de fake news e aos aproveitadores da desgraça alheia, que fiquem sob os cuidados da Justiça. Seria ótimo se o Congresso aprovasse leis mais rígidas para punir crimes cometidos no âmbito de uma tragédia como a que se abate sobre o Rio Grande do Sul. Atacar embarcações e ameaçar socorristas é o que há de mais degradante na estirpe humana. É tripudiar sobre o sofrimento alheio. É estar desprovido de todo e qualquer senso de pertencimento à sociedade, afetada em sua totalidade pela catástrofe. Que Deus se compadeça dos quase 100 mortos e de seus familiares. Que dê ao Rio Grande do Sul força e coragem para enfrentar momentos tão difíceis. 

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