Artigo

Precisamos ouvir os recados da natureza

Os países desenvolvidos têm obrigação de liderar essa marcha para salvar o planeta. Mas cada um de nós deve fazer um esforço para consumir menos

O meio ambiente não sofre calado. As imagens chocantes das inundações no Rio Grande do Sul são recados para todo o mundo, não só para o Brasil, tampouco para os que habitam a região atingida. Já faz tempo que a natureza envia sinais. Enquanto muitos tapam olhos e ouvidos, ignorando a ciência e os avisos, pessoas sofrem, perdem tudo o que construíram ao longo da vida, saem de suas casas inundadas ou levadas pelas águas, enterram parentes e vizinhos.

As tragédias são recorrentes e deixam sequelas cada vez maiores. É de uma tristeza imensa o que temos visto nos últimos dias. Nossos irmãos brasileiros, cidadãos do mundo, correndo de seus lares, esperando nos telhados por um resgate que pode demorar horas, agarrados a poucos pertences ou a nada mais. Não há ajuda que seja suficiente para quem perdeu tudo ou quase tudo — ao menos não para superar o trauma.

Agora de fato é hora de ajudar financeiramente ou com donativos. Aderir a campanhas e às mobilizações dos artistas e entidades que chamam ao dever público de auxiliar quem mais precisa neste momento.

A Defesa Civil contava, até ontem, 281 municípios afetados, quase 33 mil desalojados e 56 mortos, além de muitos desaparecidos e feridos. Mais de 300 mil pessoas estão sem luz. Aeroporto e rodoviária de Porto Alegre estão fechados. Transporte público também está suspenso e há inúmeros trechos de rodovias danificados ou interrompidos. Pesquisas de universidades estão ameaçadas. Ninguém sabe o que restará quando a água baixar, além de muita lama e destruição.

É uma calamidade pública de enormes proporções, provocada por uma combinação de fatores meteorológicos, como a temperatura recorde do planeta em abril, o aquecimento do Oceano Atlântico, entre outros eventos causados pela mudança climática. Todos nós precisamos, além de ajudar a população da região, acordar para os sucessivos alertas da ciência, que prevê cada vez mais eventos catastróficos.

Ainda há tempo de barrar essa tragédia anunciada. Os países desenvolvidos têm obrigação de liderar essa marcha para salvar o planeta. Mas cada um de nós deve fazer um esforço para consumir menos. Não precisamos de tanto assim, além de um lar, comida na mesa, proteção à saúde e dignidade. Cobrar das autoridades ações de proteção à natureza é urgente. Que essa seja uma bandeira de luta e que lembremos disso ao analisar a pauta das campanhas dos políticos.

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