VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA

Bebê Rena mergulha nas profundezas do stalking e nos faz refletir

É um crime solitário, em que geralmente a vítima demora a perceber. Por isso, precisamos de campanhas de conscientização e da criação de serviços de apoio psicológico e jurídico, além do treinamento específico para profissionais da segurança pública e do sistema judicial

É a série do momento. Há 10 dias em primeiro lugar como o programa mais assistido na Netflix, Bebê Rena trata de um assunto muito atual: stalking, o crime de perseguição. Como uma narrativa perturbadora e inquietante, aborda diversos temas ao mesmo tempo, como abuso sexual, ansiedade pelo sucesso, manipulação, medo, solidão, carência, desespero e saúde mental.

Sem dar spoiler, a série é inspirada em eventos reais da vida do próprio autor, o comediante escocês Richard Gadd. Em sete episódios curtos, que somados não chegam a quatro horas de duração, conta os quase dois anos de perseguição praticada contra o protagonista. Os números impressionam. Ele recebeu mais de 41 mil e-mails e 350 horas de mensagem de voz no período.

Sucesso de audiência, Bebê Rena está alta nas redes sociais. No X, também conhecido como Twitter, ocupou o trending topics em oito dos últimos 14 dias — com pico de até 300 postagens por minuto. Muitos discutem o papel do protagonista, visto como culpado por boa parte dos telespectadores. Outros preferem culpar as decisões tomadas, muitas vezes as piores possíveis. Independentemente da opinião de cada um, esse é o ponto que precisa ser aplaudido: a trama provoca o debate de ideias em cima de um crime praticado em forma de violência doméstica, inveja, vingança, ódio ou até mesmo a "pretexto de brincadeira".

https://www.correiobraziliense.com.br/webstories/2024/05/6849688-a-serie-mais-assustadora-e-perturbadora-de-2024.html

Com uma sociedade cada vez mais conectada — dados do Digital News Report, do Instituto Reuters, indicam que a internet chega a 83% dos brasileiros —, a violência passou a ser concretizada também pelo meio virtual — antes, a forma mais comum da perseguição era com divulgação de fatos ou boatos, a remessa de presentes e a espera constante pela passagem da vítima pelos lugares do dia a dia. Por isso, fez-se necessária a incorporação da Lei nº 14.132 ao ordenamento jurídico brasileiro. Sancionada em 2021, prevê pena de reclusão de seis meses a dois anos para quem praticar o stalking — até então, a prática era considerada apenas uma contravenção penal.

E aí entra o que vou chamar de Efeito Bebê Rena. O interesse do público demonstra que o tema está no cotidiano da sociedade. É um crime solitário, em que geralmente a vítima demora a perceber. Por isso, precisamos de campanhas de conscientização e da criação de serviços de apoio psicológico e jurídico, além do treinamento específico para profissionais da segurança pública e do sistema judicial — a série da Netflix, inclusive, aborda a dificuldade da polícia em atuar nesses casos. Mãos à obra

 


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