Muita gente acha que os alunos praticantes de atos racistas devem ser expulsos das escolas, onde os episódios agressões aos estudas negros ocorreram. Há uma cobrança por punição e justiça. Ninguém se pergunta o que leva jovens, em boa parte imaturos, a expressarem ódio contra os colegas pretos e pardos.
Não faltam exemplos na sociedade de depreciação do povo negro, reforçando uma visão deturpada dos não brancos. O ambiente virtual das redes sociais dispara a todo instante mensagens que incitam o confronto entre os mais diversos segmentos da população: negros, mulheres, LGBTQIA , pobres, moradores de rua e muitos outros. Não raro, o alvo são negros, associados ao crime, à marginalidade, ao consumo e comércio de drogas e a tantas outras infrações penais. Há quem mude de calçada para não cruzar com um homem negro nem com uma mulher de pele escura
Ao longo dos tempos, foi construída uma imagem de que basta ser negro para ser medíocre, miserável, bandido, ladrão, estuprador. Quantos jovens não são orientados a se afastar de grupos de jovens pretos e pardos. Todos esses ingredientes se somam para calcificar o racismo. Não há iniciativas para desconstruir essa imagem falsa, alimentadora do preconceito. Quais livros didáticos trazem personagens negros como heróis? O conteúdo sobre a história do Brasil sublima os europeus, descobridores da terra em que vivemos. Trata como heróis bandeirantes, que barbarizaram vários povos originários. Exalta a valentia dos capitães do mato e a matança dos que se insurgiram contra a escravidão. Mas omite que o desenvolvimento ocorreu a partir do sequestro de negros, submetidos ao trabalho forçado e tratados como animais.
Os grandes e conceituados colégios, bem como a maioria das escolas públicas, nunca se preocuparam em desconstruir as falsas versões em torno do povo afrodescendente. Sequer movem-se para cumprir a Lei 10.639/2003. Submetem-se, ainda que não tenham consciência, aos caprichos dos supremacistas brancos, ávidos para exterminar os de pele escura. Essas instituições deveriam refletir sobre a contribuição que deram, por omissão ou negligência, para que seus alunos tivessem um comportamento tão desumano. A mesma reflexão é recomendável aos pais. Não basta ser rico, é fundamental ser bem educado, ter a exata noção de que o Brasil é um país mestiço e, sobretudo, exercitar o respeito a quaisquer pessoas.
Tantos episódios dantescos não sinalizam que é chegado o momento de mudar e inserir na grade escolar o letramento racial, como estabelece a legislação? Seriam as punições severas solução para quem nunca teve orientação e educação corretas? Que tiveram uma formação impregnada de informações falsas, folclóricas e preconceituosas? Não seria melhor abraçar esses jovens e educá-los para que aprendam a viver em sociedade e a reconhecer a pluralidade racial, cultural existente na terra em que nasceram?